Federação dos Trabalhadores no Comércio - Goiás - Tocantins

Comércio adota biometria facial contra fraudes na concessão de créditos

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Comércio adota biometria facial contra fraudes na concessão de créditos

O varejo é o principal alvo de golpistas no País. Por isso, na tentativa de barrar as fraudes, uma nova ferramenta promete maior segurança no momento da concessão de crédito nas lojas, a biometria facial. A Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Goiânia passou a oferecer este ano o SPC Reconhecimento Facial, que conta com base de dados de mais 30 milhões de consumidores. O serviço já é utilizado em grandes redes de comércio de eletrônicos e de moda e começa a ser adotado por empresários na capital goiana.

Para checar se o consumidor é quem diz ser, uma foto simples é captada pelo analista de crédito no momento de realizar a venda para confirmar a identidade do cliente. Automaticamente, as informações do rosto são codificadas, analisadas e anexadas ao cadastro. Dessa forma, em uma nova compra, a comparação é feita. Por outro lado, mesmo antes desse cadastro o rosto do consumidor já pode ser reconhecido por conta da base de dados do SPC Brasil, considerada a maior da América Latina.

“Não é uma ferramenta boa só para o empresário, mas para o consumidor também. Há profissionais da fraude que usam CPF de outras pessoas. Ao se cadastrar, o consumidor pode descobrir se há um fraudador ou se proteger contra isso”, defende a diretora executiva da CDL Goiânia, Alexandra Lima. Ela diz que a margem de acerto é de 99,7% e é aprimorada, por isso é importante também que novas imagens sejam feitas pelos lojistas.

“Estava acontecendo muito de uma pessoa ficar conhecida por fraudes em uma região do País e depois migrar para Goiânia para fazer novas fraudes, o que agora pode ser barrado”, cita Alexandra. Somente no caso da rede Novo Mundo, o gestor de risco financeiro Sandro Souza revela que em quatro anos foi evitada a perda de R$ 700 mil em fraudes no Estado após reforço na análise com a comparação de documentos digitalizados.

Agora, a rede se prepara para fazer a foto do cliente no momento da venda. “Com algo bem mais simples tivemos uma eficácia grande e vamos migrar. Temos de evoluir, porque os fraudadores começam a achar brechas. Quando faz crédito, é 100% de prejuízo, além de poder ocorrer ação judicial contra o verdadeiro cliente.” Ele diz que é na capital que ocorrem a maioria dos casos de falsidade ideológica e o teste da biometria facial ocorrerá em três unidades para depois ser usado nas outras. A intenção é checar funcionamento e aceitação.

“Hoje, é algo convencional. Não se entra em prédios sem ter a foto tirada na recepção. Tem sido algo cotidiano como forma de segurança.” Por isso, acredita a diretora da CDL, o pedido para tirar foto “pode ser bem recebido”. “Queremos afastar os fraudadores e proteger os clientes de verdade.” As principais fraudes no Brasil ocorrem na emissão de cartão de crédito e “private label” e nas compras de eletrônicos e celulares.

O Indicador Serasa Experian de Tentativas de Fraude mostra que o Brasil encerrou 2017 com 1,964 milhão de tentativas de fraudes, a média é de uma a cada 16 segundos. Segundo o SPC Brasil, varejistas como Riachuelo, Pernambucanas, Via Varejo e Marisa já identificaram juntos quase 20 mil tentativas de fraudes somente no ano passado. Em Goiás, os números também preocupam. Alexandra afirma que associados informam que uma fraude tem custo médio de R$ 8 mil e supera o valor das mercadorias.

“Acontece de se passarem por outra pessoa, mas também há casos em que compram e depois abrem um processo para alegar que não foi ele que comprou. Alegam que tiveram o documento roubado, que a assinatura não é dele. A fragilidade é grande e os fraudadores se reinventam”, alerta.

Do grande ao pequeno

A nova tecnologia para o reconhecimento facial pode ser implementada com pouco investimento, com uma webcam ou mesmo um celular é possível fazer a biometria. Por isso, não são somente as redes com numerosas lojas que têm aderido. A ferramenta seria acessível aos pequenos comerciantes também. “Ao fazer crediário para valores altos de mercadorias, é importante ter essa segurança”, defende a gerente de crédito da Omega Dornier, Sílvia Teles.

A empresa já faz o teste com a biometria facial e a gerente informa que entre os clientes a aceitação tem sido boa e há hábito de fazerem boleto para pagar joias. “O índice de fraude no nosso caso não é alto, mas é uma medida de prevenção. Temos sete lojas e é algo simples. Com treinamento com analista de crédito, colocamos em prática.” Segundo Sílvia, não se pode parar no tempo. “Esse é o futuro. Esperamos que mais lojas usem para ter um banco de dados melhor.”

Consumidor pode se negar a fazer foto

Apesar de toda a segurança contra fraudes que a biometria facial promete para os varejistas, o consumidor pode se negar a posar para a foto. “Já tivemos casos de recusa para fazer a verificação e o analista de crédito pode definir se concederá o crédito ou não”, diz a diretora executiva da CDL Goiânia, Alexandra Lima. Porém, a nova ferramenta também tem uso questionado por especialistas.

O presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo – Seção Goiás (Ibedec-GO), Wilson Rascovit, explica que é direito do consumidor a negativa e a empresa não pode negar a venda, pois há outras formas de checagem. “Há outro fator, há margem de erro, por menor que seja. O Código de Defesa do Consumidor diz que o consumidor não pode ser constrangido em qualquer momento da compra”, defende.

De outro lado, há crença de que por se tratar de mecanismo que tem como objetivo evitar que consumidores também sejam vítima de fraudes muitos devem concordar com o armazenamento da imagem de seus rostos. Sobre isso, o advogado especialista em direito digital, Rafael Maciel, pontua que no momento da foto é preciso que a informação seja clara. “Ao pedir o consentimento para coletar informação, é preciso explicar a finalidade, onde os dados serão armazenados e a política de segurança.”

Além disso, como lembra o diretor do Ibedec-GO, o uso de dados obtidos por terceiros é vedado pela Lei Geral de Proteção de Dados, a menos que haja autorização do consumidor para isso. “O dado biométrico é sensível para a utilização e é preciso consentimento expresso para uso do banco de dados. Se fiz o cadastro em uma loja, não podem passar para terceiros para finalidade diversa, isso fere a legislação.” Maciel também reforça que outro ponto a ser questionado é onde ficam as informações.

“No Brasil, passamos por grande transformação e a segurança dessas informações precisa ser revista, há riscos. Também é preciso ver se tem necessidade justa e necessária ou é uma coleta excessiva. É realmente necessário e adequado?”, questiona. “É preciso fazer um tratamento sério com controle de segurança para que essas informações não sejam roubadas.”

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