Federação dos Trabalhadores no Comércio - Goiás - Tocantins

Profissionais precisam ser cada vez mais digitais

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Profissionais precisam ser cada vez mais digitais

O lápis apoiado sobre a orelha e um bloco para anotar os pedidos nas mãos. Foi assim que Rosenbergue Bueno, 64 anos, começou a trabalhar como balconista em uma loja de material de construção em 1974, em Londrina. A experiência adquirida ao longo de 44 anos ainda é valorizada no mercado de trabalho. O conhecimento de materiais como cerâmicas, louças e metais o torna uma espécie de enciclopédia entre clientes e colegas de trabalho. Mas, para se manter na ativa, ele precisou se atualizar.

A demanda do mercado de trabalho impôs o uso da tecnologia em sua rotina. Agora os pedidos, a situação dos estoques, informações técnicas sobre os produtos e até detalhes sobre salário e marcação do ponto são oferecidos com apenas um clique na tela de um smartphone. "Precisei me reciclar, entendo que esse seja um processo natural. Hoje a informática está em tudo. É humanamente impossível decorar o estoque da loja na qual trabalho. Por isso, o aplicativo ajudou muito e melhorou a minha capacidade de atender aos clientes", avalia Bueno. 
 

                              
Rosenbergue Bueno, 64 anos, precisou aprender novas habilidades para se adaptar no novo perfil de mercado de trabalho

 

A história de Rosenbergue é um relato bem-sucedido do grupo de trabalhadores conhecidos como imigrantes digitais. O termo criado pelo especialista em educação americano Marc Prensky define o conjunto de pessoas que nasceram em um período em que o uso das tecnologias digitais não estavam presentes em sua vivência. Esse grupo abrange ainda enorme número de profissionais que precisam se manter atualizados para continuar na ativa. "Lembro-me que, no princípio, meus colegas assim que viram os computadores chegarem às lojas ficaram com medo de serem substituídos. Havia uma desconfiança, mas hoje muitos que trabalhavam comigo já se aposentaram. Eu espero trabalhar por mais seis anos", explica o consultor. 

Adaptar-se às novas tecnologias não foi uma escolha. Na Leroy Merlin, onde Rosenbergue atua há seis anos, a implantação tecnológica foi um processo de transformação da empresa em um ambiente 100% omnicanal, ou seja, uma empresa em que os clientes podem comprar o que querem, como querem, onde querem, quando querem e quanto querem. E o uso da informática foi fundamental para o processo no qual foram investidos R$ 260 milhões para fazer aumentar o poder de escolha dos clientes.

 

Para adequar todos os 10 mil funcionários, foram necessários dois anos de trabalho, com formação de facilitadores através de um departamento chamado Universidade Corporativa. "Todo o processo foi gradual e incluiu a utilização de um jogo para que os colaboradores pudessem treinar e tirar as dúvidas. O resultado foi um aumento na produtividade e uma melhoria no atendimento para os clientes", afirma Cláudia Zem, diretora responsável pelo processo na Leroy Merlin. A implantação da tecnologia envolveu as 41 lojas da rede, que mantém constante treinamento de seus funcionários. 

Transição para o mundo digital 

O mercado de trabalho brasileiro enfrenta um momento de extrema dificuldade. Segundo dados mais recentes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a taxa de desemprego atinge a marca de 11,9%, em grande parte pressionada pela crise financeira. Diante de tal cenário, onde as vagas formais são cada vez mais raras, a pressão sobre os profissionais só aumenta. A constante necessidade de atualização é fundamental, num ambiente em que as novas gerações de profissionais já virão com outras capacidades.

Para se ter uma ideia, há um grande número de escolas onde os jovens já estudam programação e até robótica. "Hoje, a codificação funciona como o inglês de antigamente em muitos processos de seleção. É um diferencial muito desejado", avalia Adeildo Nascimento, diretor da ABRH Paraná (Associação Brasileira de Recursos Humanos). Segundo o especialista, há uma mudança na forma em que as empresas se relacionam com seus funcionários. "Nos EUA, por exemplo, gigantes como a Apple, o Google e o Facebook já contratam profissionais sem diploma. Eles valorizam a capacidade e não onde estudaram", explica. 

O novo cenário digital não só cria a imposição de uma constante atualização, como também influencia a própria educação. Com a velocidade das mudanças, as instituições tentam acompanhar reduzindo o tempo dos cursos e especializações. Neste ambiente, os cursos livres ganham espaço e o autoaprendizado se tornou uma ferramenta fundamental para sobreviver no mercado de trabalho. "Há uma enorme gama de cursos gratuitos oferecidos na internet. O brasileiro em especial precisa mudar a forma com que se relaciona com a rede. Deve usar menos para se divertir e mais para aprender. Excelentes universidades de todo o mundo oferecem cursos online", aconselha Nascimento. 

Imbuído deste espírito e guiado por sua curiosidade, Rosenbergue Bueno já planeja seu próximo passo. Antes ele temia a tecnologia e tinha dificuldades para compreender a linguagem digital, mas hoje se sente cada vez mais naturalizado com o tema. Antes, acostumado a criar projetos para as obras de seus clientes com papel e caneta, agora ele começa a dar os primeiros passos, em seu tempo livre em casa, a transformar as suas ideias em arquivos digitais. Enquanto os designers que trabalham na mesma loja que ele utilizam o complexo CAD para projetos em terceira dimensão, Bueno já encontrou uma versão online, gratuita. "Sempre gostei de aprender e esse se tornou um desafio para mim. Vou aprender e, quem sabe, logo vou poder usar no trabalho. Estou determinado neste novo objetivo", conclui o vendedor, com olhos voltados para o futuro.

Pedro Moraes 
Reportagem Local

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