Os supermercados, apesar da vantagem de ser um segmento essencial, experimentam desafios diante da crise causada pela pandemia de coronavírus. A queda de renda da população e as mudanças que já estavam em curso moldam a reação desse setor. Sobre os desafios e as novas movimentações, o empresário, diretor da Partner Corporate e especialista em varejo, Geraldo Rocha, explica, em entrevista ao POPULAR, o que afeta e o que impulsiona as vendas.
Como os supermercados foram impactados pela crise?
O setor acabou sofrendo um impacto relativo. Apesar do funcionamento ininterrupto, passou a vender mais itens de higiene e primeira necessidade. Então, esses itens no primeiro momento resultam em venda nominal maior, mas afeta a rentabilidade. Porque as pessoas passaram a comprar menos itens de segunda e terceira necessidades e a parte de bazar e vestuário, onde os supermercados têm margem alta.
Quais são os principais desafios que enfrentam?
O que acontece é que o setor como um todo em relação a outros alavancou venda maior. Mas, ao mesmo tempo, as margens de lucro recuaram. Por isso, mesmo a área de supermercado e atacarejo tiveram de se reinventar. Os clientes estão valorizando mais a questão de subsistência e deixando as outras para depois.
O auxílio de R$ 600 do governo federal foi importante?
O auxílio emergencial beneficiou todos os segmentos. A poupança teve um resultado incrível em relação a depósito e saque, efeito do auxílio. Nos supermercados em si e varejo de alimentos, foi fundamental. Diria que foi uma injeção na veia para a performance do setor e de pequenos negócios. Sem isso, pode ter certeza que pequenos e médios teriam mais dificuldade.
Quais têm sido as principais estratégias do setor?
Acredito que o setor de alimentos pouco se reinventou. O impacto foi grande e o que as redes tentaram foi se manterem abertas, sem norteamento. Como é um setor essencial e todo mundo foi pego de surpresa, não houve estratégia definida. As campanhas de marketing não mudaram, as redes continuaram falando de preço e ofertas. O que precisava no momento era atrair o consumidor para uma venda qualificada. No primeiro momento, isso não ocorreu. Depois, as pessoas entenderam que o hipermercado era a única alternativa. Assim, muitas redes incrementaram o mix do que vendiam com eletrodoméstico e vestuário. A estratégia foi tentativa e erro, já que não havia shopping e comércio aberto. Agora, com a reabertura do comércio em geral, é que começam a ver o que fazer.
Promoções ou congelamento de preço são importantes?
Para mim, é insustentável. Pode ser primeiramente uma questão de posicionamento de imagem, uma ação e outra. Mas no médio e longo prazos, é insustentável. A cadeia produtiva pressiona de uma forma consistente a formação de preço. Acho que continua na linha de equilíbrio entre oferta e procura. De um lado, tem menos gente comprando e, de outro, mais ofertas de mais produtos em um mesmo local. Uma coisa compensa a outra.
O mercado apresenta iniciativas de investimento?
O mercado continua aquecido. Acredito que o segmento vai continuar crescendo e haverá oportunidade para aquisições e novas unidades das mesmas redes. Vejo que terão novas redes em Goiás e Goiânia. E, talvez, uma concentração. O mercado está líquido e isso é bom.
O atacarejo estava em crescimento. Isso deve continuar?
O segmento tem tudo para contribuir com a retomada mais rápida. Acredito que novos arranjos de redes com lojas menores e atacarejos ainda estão em expansão. Um modelo que vai ainda seguir em frente. Porque está líquido e com potencial de consumo grande. Vai ter muita oportunidade de substituição de momento de compra. Os shoppings vão demorar mais. Os supermercados estão em consolidação.
A compra no próprio bairro é uma tendência?
Sem dúvida, a mobilidade mais complicada e essa questão da pandemia trouxeram novos conceitos para as pessoas, que não querem sair muito para longe, querem mais conveniência. As redes de varejo são criativas. A mesma operação em mil metros quadrados consegue em uma loja de 300 metros quadrados.
As vendas on-line ou por aplicativo tiveram crescimento nos supermercados, assim como em outros setores. É um movimento permanente?
Acredito que a pandemia trouxe uma proximidade maior da população com a internet. Mas continuo na tecla de que não temos infraestrutura para uma mudança radical do comportamento do consumidor. O que funciona hoje são aplicativos, como iFood para pedidos pequenos. No geral, para a grande massa que compõe o varejo, continuo acreditando que tem um longo tempo para isso. Claro que tem um pequeno crescimento e as pessoas experimentam, mas ainda teremos décadas para falar que mudou o comportamento e que tomará as lojas físicas.