11.291 pessoas ficam sem emprego por dia

A recessão criou um exército de 1,7 milhão de desempregados em apenas cinco meses no país. Com isso, o número de desocupados entre janeiro e maio atingiu 8,1 milhões, o correspondente a 8,1% da população economicamente ativa (PEA), o pior resultado desde 2012, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Isso significa que, incluindo sábados, domingos e feriados, o Brasil contabilizou, por dia, 11.291 pessoas sem trabalho formal.

O forte avanço do desemprego reflete o desastre econômico do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. A inflação sistematicamente no teto da meta, de 6,5%, nos últimos quatro anos corroeu o poder de compra das famílias, que foram obrigadas a conter o consumo. Sem compradores, a indústria e o comércio reduziram a atividade e foram obrigados a demitir.

Esse quadro se agravou neste ano, porque houve um choque de tarifas públicas, que levou o custo de vida para 9% e obrigou o Banco Central a aumentar a taxa básica de juros (Selic), para 13,75% ao ano.

As previsões para o mercado de trabalho são dramáticas, admitem os especialistas. É possível que, nos próximos meses, a taxa de desocupação passe dos 10%. Aqueles que ainda estão sendo admitidos não encontram mais oportunidades para negociação salarial, e a consequência disso tem sido a queda do rendimento real habitual, que cravou R$ 1.863 no trimestre terminado em maio — recuo de 0,4% em comparação ao mesmo período do ano passado e queda de 0,7% em relação ao trimestre anterior.

Pressionadas pelo custo de vida galopante, mais pessoas estão à procura de uma vaga no mercado de trabalho. Contudo, esbarram na escassez de oportunidades. “Aqueles que estavam na zona de conforto, quando a economia crescia, estão, agora, tendo que procurar emprego para manter a renda e tentar aliviar a difícil situação financeira”, explicou o coordenador de Trabalho e Renda do IBGE, Cimar Azeredo.

A procura por uma oportunidade tem levado várias pessoas às agências do trabalhador. É o caso da estudante Darcilene dos Santos, 29 anos. A menos de uma semana para a apresentação do trabalho de conclusão do curso de letras, ela já se preocupa com a iminência de ser mais uma a ter ensino superior sem emprego.

“Acabei o estágio há dois meses e comecei a procurar uma vaga. Até agora, fiz apenas duas entrevistas. Em uma, o salário oferecido era de R$ 788 para uma jornada de 44 horas semanais, e não aceitei. Na outra, concorri a uma vaga para auxiliar de cozinha, mas decidiram não me contratar pelo fato de eu estar concluindo a graduação”, disse Darcilene. Mãe de uma criança de 8 anos, ela está apreensiva. “A pior situação é ver meu filho pedir algo e eu não poder comprar”, lamentou.

Desolador
Para o professor Carlos Alberto Ramos, da Universidade de Brasília (UnB), não há perspectiva de melhora a curto prazo para o emprego. “A tendência é a desocupação aumentar, porque a economia está enfraquecida e vai desaquecer mais ainda”, afirmou.

A deterioração do emprego está disseminada e atingindo os trabalhos com e sem carteira assinada. No trimestre fechado em maio, o número de ocupados no setor privado sem carteira ficou em 10 milhões, uma queda de 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior e um tombo de 3% frente ao mesmo período de 2014. Já os ocupados com carteira chegaram a 36 milhões, também registrando queda nas duas bases de comparação — 0,8% e 1,9%, respectivamente.

O desânimo com a economia é tanto que o pedreiro Martinho Alves de Souza, 43 anos, não espera melhora tão cedo. Desempregado há dois meses, já entregou currículos e procurou serviço em canteiros de obra, mas não encontrou nada. “Já tentei de tudo, mas só tenho colecionado promessas, infelizmente”, assinalou.

 

Facebook
Twitter
LinkedIn