A maioria das empresas goianas preferiu não demitir funcionários por conta da pandemia do coronavírus. Apesar das restrições impostas pelos decretos de isolamento social, 71,4% delas preferiram manter seus quadros funcionais, utilizando recursos próprios ou se valendo de programas de apoio ao emprego do governo federal, como os que permitiram a suspensão de contratos ou redução de jornada de trabalho e de salários. Alguns empresários também evitaram demissões por acreditar que as dificuldades passariam logo e para não perder mão de obra qualificada.
Foi o que mostrou um levantamento feito pela Câmara Americana de Comércio de Goiânia (Amcham-GO), em parceria com o Centro de Pesquisas Econômicas e Mercadológicas da Unialfa, entre os dias 11 e 12 de setembro. Dentre as empresas que não demitiram ninguém, o setor de serviços foi o que teve melhor desempenho: 49,3% destas companhias preferiram manter seus quadros. Foi o que fez a empresária Cleusa Maria Scano, proprietária de uma lavanderia, que manteve suas quatro funcionárias acreditando que o problema passaria logo.
Durante os decretos de isolamento, a receita de sua empresa caiu pela metade, pois a lavanderia ficou fechada e ela continuou fazendo apenas a lavagem de uniformes para empresas prestadoras de serviços essenciais. As funcionárias passaram a ir somente duas vezes por semana para lavar estes uniformes. Mesmo assim, ela garante que não aderiu aos programas para redução de jornada e salários, pois acreditava que tudo fosse passar logo. “Eu sabia que elas precisavam do salário integral, mas isso me custou um enorme aperto financeiro. Só estou começando a me recuperar agora”, justifica.
Para a coordenadora regional da Amcham-GO, Anessa Caparelli Santos, os programas de manutenção de empregos foram muito importantes para que as empresas pudessem reter mão de obra. Mas ela também reconhece que a pandemia acabou criando um clima maior de empatia entre patrões e empregados, devido às dificuldades que afetavam todos. “Tudo isso ajudou, além da expectativa de que as coisas fossem passar logo”, destaca Anessa.
Maturidade
Porém, esta expectativa acabou sendo um problema para muitas empresas, pois nem todas estavam preparadas para enxergar as coisas no médio e longo prazo. As grandes companhias montaram comitês de crise para planejar suas ações, mas a maioria das pequenas tinha menos maturidade para fazer análise de longo prazo. Muitos pequenos varejistas e prestadores de serviço se endividaram ou fecharam as portas. Já outros migraram rapidamente para o meio digital e passaram a oferecer novos formatos de compras e serviços.
Anessa lembra que estas empresas passaram a investir mais em recursos tecnológicos e mudaram suas formas de atendimento, passando a usar mais plataformas digitais, o que tornou a mão de obra indispensável, principalmente a qualificada. A sondagem revelou que 50% das empresas goianas mantiveram mais de 51% de suas equipes trabalhando em home office e o setor de serviços foi o que melhor se adaptou ao trabalho remoto, que antes não era bem visto. Assim, elas descobriram que podiam economizar com transportes e manutenção da infraestrutura. “Só se manterão vivas e competitivas as que investirem em tecnologias e na mudança de cultura organizacional”, alerta.
Eventos, turismo e bares tiveram mais dificuldades
Apesar da positiva taxa de manutenção de empregos durante a pandemia, alguns segmentos do setor de serviços tiveram mais dificuldade para manter sua mão de obra. Foi o caso das empresas de eventos, turismo, bares e restaurantes. O presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado (Acieg), Rubens Fileti, reconhece a importância dos programas de manutenção do emprego criados pelo governo federal, que ajudaram muitas empresas a não demitir. Segundo ele, as micro e pequenas empresas foram as que mais mantiveram seus empregos, enquanto grandes redes demitiram ou suspenderam contratos. “Porém, como no início da pandemia ainda não havia nenhum instrumento garantidor de crédito no mercado, estes pequenos negócios foram os que tiveram mais dificuldade para conseguir recursos no sistema financeiro”, lembra.
Mas Rubens alerta que outros problemas ainda podem dificultar a vida das empresas e provocar demissões nos próximos meses, como o vencimento da prorrogação dos pagamentos do Simples Nacional. O pagamento dos meses de abril, maio e junho começa a vencer agora, se acumulando com as obrigações atuais. “Logo depois, vem o pagamento do 13º salário em novembro, o que pode aumentar o endividamento das pequenas empresas e provocar desemprego”, adverte. Agora, as boas expectativas estão depositadas nas vendas de fim de ano, por conta da estimativa de uma demanda reprimida, o que pode ajudar na geração de empregos temporários.