Classe C lidera novos negócios no Brasil

A ascensão da classe C tomou corpo nos últimos anos e engrossou os negócios das empresas brasileiras. Essa população, no entanto, não manteve-se apenas em posição de consumidora e passou a empreender mais. Tanto que atualmente mais da metade, ou 55,2% dos empreendedores, pertence a essa classe social, segundo pesquisa do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

A melhora da renda encabeça os motivos para se tornar empreendedor e junto com o desejo de obter a independência financeira são as duas explicações mais representativas para a supremacia da classe C entre as pessoas que empreendem de alguma forma.

Outro motivo, apontado pela gerente da Unidade de Estratégias do Sebrae Goiás, Camilla Carvalho Costa, é uma migração dos empreendedores, para a classe C, das classes D e E, que hoje representam 7,3% do total de empreendedores do País. As classes A e B respondem por 37,5% dos empreendedores e têm mantido o percentual, segundo Costa.

Ex-dona de casa, Cleusa Francisca de Barros Valois, 58, está entre esse perfil de empreendedores que se arriscaram e têm conseguido seu lugar ao sol. Viúva, ela veio de Brasília para Goiânia e há seis meses resolveu apostar todas as suas fichas em um novo negócio. Na capital federal, vendeu sua casa; na goiana, investiu todo seu dinheiro na compra de uma empresa e do maquinário necessário para a industrialização de polpa de frutas.

Primeiro o desejo era apenas o de ajudar o antigo dono, que passava por dificuldades. “Emprestei o dinheiro, mas Deus quis que eu comprasse o local pouco tempo depois”, diz ela. Cleusa herdou a clientela que soma mais de mil clientes fixos. Na cartela de clientes estão lanchonetes, bares, sanduicherias, restaurantes, churrascarias, casas de frios, pit dogs e até residências, que conhecem a marca por meio de panfletos e anúncios na internet.

Variedade

Os negócios chegam a cerca de 30 toneladas de polpas de morango, amora, açaí, abacaxi entre outras, comercializadas todos os meses. A empresária não ficou apenas nas polpas de frutas – que somam mais de 20 sabores – e inclui no mix de produtos do negócio outros atrativos. Batatas pré-fritas, legumes congelados, açaí em barra, açúcar mascavo, aveia e picolés também carregam a marca Casa do Morango.

Entre os planos de Cleusa, para fazer o negócio prosperar, está realização de entregas em todo o País. “O faturamento está além do esperado para o negócio, que está no início, mas sabemos que temos muito espaço para expandir. Basta encontrar o melhor caminho pra isso”, explica a empresária.

O negócio ainda precisa se consolidar, pois se esbarra na falta de capital de giro para crescer e dar mais lucro e ainda falta crédito para sair do vermelho. A boa notícia é que o esperado financiamento do BNDES deve ser liberado nos primeiros meses de 2013. “Trabalho em local alugado e tenho que matar um leão por dia. Já tomei muitos tombos, mas me mantenho de pé”, diz a nova empreendedora.

Alternativa para o sustento da família

A elevação no número de empreendedores da classe C é baseada na busca por uma fonte alternativa para o sustento da família e, em muitos casos, se traduz na formalização de um negócio que já existia e era levado de forma paralela a outras atividades. A informação é da gerente da Unidade de Estratégias do Sebrae Goiás, Camilla Carvalho Costa.

Para o presidente da Federação Comercial de Goiás (Fecomercio), José Evaristo dos Santos, lembra que boa parte desses empreendedores não tem qualificação superior e nem mesmo conhecimento sobre as áreas das quais empreendem. “Se arriscam por uma melhora de vida e de renda, mas é preciso tomar cuidados”, explica. São cuidados que vão além da força de vontade e da disposição para o trabalho.

O aprendizado, a qualificação, o conhecimento sobre a atividade que pretende trabalhar, além de pesquisa sobre o local onde ele vai instalar a nova empresa, dos impostos a pagar, do mercado trabalhar são alguns dos fatores que irão determinar se a empresa sobreviverá aos anos iniciais, período mais crítico. Segundo Evaristo, 40% das empresas goianas não sobrevive ao primeiro ano de vida. Outros 20% caem no segundo ano e apenas um percentual que beira os 10% sobrevive de fato. (A.P.)

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