Com apenas 19 anos de idade, o repositor de supermercado Paulo Henrique Pimenta da Silva já está preocupado com dívidas que acumulou há vários meses. Hoje, ele estima que tenha cerca de R$ 2,8 mil em dívidas com cartão de crédito e no crediário de duas lojas, resultado de um descontrole financeiro e do fato de ter ficado dois meses desempregado.
“Comprei além da conta, não consegui pagar tudo e a dívida cresceu com os juros do cartão de crédito”, justifica. Agora que voltou a trabalhar, Paulo Henrique garante que quer renegociar com seus credores, mas precisa de condições mais facilitadas, como descontos e parcelas que caibam no orçamento mensal de R$ 800.
Os jovens adultos da periferia são hoje as maiores vítimas da inadimplência no Brasil, segundo um levantamento inédito da Serasa Experian, que traçou o Mapa da Inadimplência no País referente ao primeiro semestre deste ano. Hoje, esses jovens representam 23% dos inadimplentes no Brasil. O estudo também coloca Goiânia como a 15ª capital em número de inadimplentes: 28% da população da capital têm dívidas atrasadas há mais de 90 dias e com valores acima de R$ 200,00.
CRESCIMENTO
Na média nacional, a inadimplência atinge 24,5% da população. Depois dos jovens adultos da periferia, a massa trabalhadora urbana é a que tem o maior volume de inadimplentes: 17% dos devedores. O levantamento também mostra um grande volume de endividamento entre os empreendedores: 41% dos donos de negócio hoje estão inadimplentes.
A gerente da Serasa Consumidor, Karla Longo, informa que a inadimplência preocupa, porque vem crescendo no País. Segundo ela, de janeiro a setembro deste ano, o aumento foi de 4,2% em relação ao mesmo período de 2013. E o índice pode crescer ainda mais, considerando que o endividamento já atinge 40% dos consumidores.
Para ajudar os inadimplentes a renegociarem suas dívidas, Karla lembra que começou o Super Feirão Limpa Nome da Serasa, que oferece descontos e condições especiais para que o consumidor quite sua dívida e termine o ano com o nome limpo.
Nessa época do ano, as empresas querem que a pessoa regularize sua situação para voltar a comprar no Natal. “Após essa negociação, é preciso tomar cuidado para não voltar a se endividar com a compra de presentes”, alerta a gerente da Serasa. O melhor aliado nessa negociação é o 13º salário que está chegando e deve ser usado para colocar as finanças em ordem.
ALTO PADRÃO
A faixa etária mais representativa de devedores é entre 26 e 30 anos, onde a taxa de inadimplentes chega a 29,9% das pessoas. Para Karla Longo, essa é uma fase em que muita gente começa a gastar com coisas que antes não tinha no orçamento, como o financiamento de um apartamento ou de um carro de melhor padrão.
O economista Ot Vitoy vai mais além e lembra que o público nessa faixa geralmente é formado por pessoas que estão começando a crescer na carreira, depois de concluírem o curso superior, por isso buscam um padrão de vida melhor. É uma fase em que elas começam a ganhar um salário mais alto e querem comprar um carro novo, roupas de grife e frequentar bons lugares no lazer.
Segundo o economista, muita gente acaba perdendo o controle financeiro nessa fase e o cartão de crédito pode passar de aliado à vilão. “Muitos se empolgam quando começam a ganhar dinheiro e acaba reféns dos juros altos”, adverte.
Já os jovens da periferia acabam se endividando muito porque querem consumir muita coisa que seus salários não conseguem comprar. Segundo Ot, essa faixa da população quer acompanhar os modismos, como ter o celular de última geração, um tablet ou um notebook, mas muitas vezes não tem renda compatível com isso. Muitos também acabam fazendo vários cartões de crédito e de lojas de departamento, criando uma falsa impressão de maior poder de compra.
Para o economista, independente do perfil do devedor, todos precisam saber programar o orçamento antes de saírem comprando para conseguirem lidar bem com suas finanças. “Ninguém deve se esquecer de que dinheiro não aceita desaforo”, adverte.