Não é novidade que o mundo dos animais de estimações tem se aproximado da realidade dos seus cuidadores, às vezes em níveis até esdrúxulos. Mas, as semelhanças com o dono não dizem respeito apenas ao zelo pela aparência, ou preocupações com o bem-estar dos bichinhos. Os cães e gatos domesticados também têm compartilhado com os humanos alguns de seus maus hábitos, sobretudo alimentares. Por isto, pets estão se esbarrando em um velho vilão para saúde dos bípedes: a obesidade.
Refeições fora de hora, ingestão de comidas e guloseimas de humanos, sedentarismo e até a castração podem ser as causas, que tem construído uma geração de pets em sobrepeso. De acordo com o último levantamento da Associação Médica Veterinária Americana, realizado em 2009, no Brasil, a estimativa é que 30% dos cães e 25% dos gatos estão obesos.
Foto: Sandra Ramos/ Funcionária pública Arlene Damásio lutra com o sobrepeso da cofap Futrica
Foto: Sandra Ramos/ Funcionária pública Arlene Damásio lutra com o sobrepeso da cofap Futrica
Labrador, Cocker Spaniel, Dachshund, Beagle, Collie, Sheepdog, Basset Hound, Golden Retriever e Cairn Terrier, por predisposição genética, são as raças que mais sofrem com os quilos em excesso. Segundo especialistas, o peso a mais pode tornar os animais mais propensos a problemas respiratórios e cardíacos, diminuindo assim sua expectativa de vida.
Excesso de amor
A culpa, na maioria das vezes, claro, que não está nos bichinhos, mas sim nos seus cuidadores. No entanto, o hábito de servir comidas de humano ou fora de hora, passa longe do desleixo e muito menos da falta de amor. Muito pelo contrário: trata-se da pura e simples superproteção. Com a intenção de deixá-los felizes, é comum os donos cederem aos apelos dos queridos animais por comidas prejudiciais.
Foi isto o que aconteceu com Lucke, um shih-tzu de 10 anos. O cachorro sempre foi o centro de atenção da família da jornalista Izabela Garcia e tratado com, além de amor, muito zelo. Por isso, quando o animal quebrou a clavícula, em uma de suas estripulias, os cuidadores não hesitaram em lhe dar mimos e fazer todas as suas vontades. “Depois que se machucou, notamos que ele ficou mais dengoso e bravo. Para suprir sua carência, começamos a cerca-lo com mais carinho e comidas”, conta a jornalista.
A família que possui ainda mais três cachorros e quatro gatos, não conseguiu resistir aos “pedidos” do animal, principalmente quando estavam comendo pão. “Ele é louco por este alimento. Sempre quando estávamos comendo ele chorava, pulava e sempre cedíamos. Achamos que estávamos fazendo o bem para ele”, explica a jornalista.
Além deste hábito de alimentação repetido quase diariamente, Izabela conta ainda que a ração de Lucke ficava sempre à sua disposição, ou seja: ele não possuía horário certo para se alimentar. Com isso o shih-tzu que deveria pesar 8kg, já beirava 11kg e suas limitações começavam a se tornar visíveis aos seus cuidadores. “Ele estava com dificuldade para andar e sua respiração era muito ofegante. Começou a roncar bastante também. Parecia uma pessoa roncando”, relembra a jornalista, que depois de perceber tais sintomas procurou um veterinário, que, segundo ela, lhe deu uma bronca, por conta do excesso de peso de Lucke.
Após orientações dos profissionais, hoje, a jornalista conseguiu com que o cão chegasse ao peso ideal – ele está com cerca de 7 kg. A boa forma ele adquiriu após os cuidados com sua saúde, mas também porque ele adquiriu a doença do carrapato, que o tornou ainda mais magro. Já curado da enfermidade, Izabela só vê benefícios, no velho amigo depois do “regime”. “sua pelagem está mais bonita e sua respiração muito melhor. A única coisa é que está cego de um olho, mas não sabemos se é em decorrência da antiga obesidade”, lamenta.
Nos felinos
A exemplo da música de Chico Buarque, do musical Os Saltimbancos, História de Uma Gata, o mundo da felina Maria Augusta era um “apartamento, Detefon, almofada e trato”. Sempre aos cuidados da funcionária pública Regiadeblan de Lima, ela não comia filé mignon, apenas ração em horários corretos e nem gostava das guloseimas dos humanos. “Ela nunca miou quando alguém estava se alimentando. É muito educada e só come ração de peixe ou frutos do mar”, conta sua dona.
Porém, a dieta controlada não foi o suficiente para que a gatinha Maria Augusta se livrasse do sobrepeso. Sempre no pequeno apartamento, ela se tornou sedentária – não gostava de sair de forma nenhuma. “Por este comportamento estava pré-diabética e muito gordinha. Como solução, a levei para minha chácara e hoje ela ótima. Emagreceu naturalmente apenas de ficar solta e ter mais espaço. Mas, ela é antissocial, não socializa com nenhum dos gatos do lugar, fica na dela”, diz Régia.
De regime
Ao contrário de Maria Augusta e Lucke, a cofap, Futrica ainda está na batalha em busca do emagrecimento. Hoje com seis anos, o cão começou a engordar quando possuía apenas três anos. “Ela está bem obesinha. Pesa cerca de 10 kg”, disse sua dona a funcionária pública Arlene Damaso.
O excesso de peso, de acordo com sua cuidadora, também aconteceu por conta daquela velha e arriscada mistura de ração com a comida humana. “Ela sempre gostou muito de arroz, pão, bolachas”, explica. Pelos excessos, a obesidade de Futrica, lhe trouxe problemas sérios de saúde: uma vez quando Arlene brincava com a pet, ela acabou machucando a coluna e ficou por seis semanas sem andar.
Este susto serviu para alertar a fucionária pública e seu marido, o autônomo Dalison Queiroz de que precisam mudar de comportamento. Porém o mesmo não aconteceu com seus filhos e a sua própria mãe. “Quando estava se recuperando da coluna conseguimos controlar seu peso, ela conseguiu emagrecer comendo só ração. Mas, nossos filhos e minha mãe sabotaram a dieta sempre enchendo Futrica de comida, quando saímos para o trabalho. Por isso engordou tudo de novo. Mas estamos na luta e tentando”, desabafa.
Entrevistamos o veterinário Ronaldo Medeiros de Azevedo Para tirar mais dúvidas sobre o assunto, Confira a seguir:
DMRevista: Como saber se o animal de estimação está caminhado para obesidade?
Ronaldo Medeiros de Azevedo: Em cães, o sobrepeso é considerado quando o peso corporal é 15% superior ao peso corporal ideal, e a obesidade quando o peso é 30% superior ao ideal. De forma geral, o ganho de peso ocorre quando a ingestão de energia é maior do que a energia gasta pelo animal, o que pode ser resultado da ingestão exacerbada de alimentos e/ou petiscos, atividade física reduzida, taxa metabólica diminuída ou utilização mais eficiente de nutrientes. Os animais obesos não necessariamente comem muito, já que não é necessária a grande ingestão de energia para mantê-los gordos. A obesidade pode ser o resultado de maior consumo energético em relação a seu gasto em algum momento da vida do animal.
DMRevista: Além da alimentação, outros fatores podem contribuir para obesidade nos animais de estimação?
Ronaldo Medeiros de Azevedo: Os fatores que contribuem para o desenvolvimento da obesidade podem ser classificados como endógenos ou exógenos. Os de origem endógena incluem a idade do animal, o sexo, o estado reprodutivo, alterações hormonais, lesões do hipotálamo e predisposição genética. Ao passo que os fatores exógenos incluem o nível de atividade voluntária, influências alimentares externas, composição dietética, palatabilidade do alimento e estilo de vida do animal. Animais com idade avançada tendem estar acima do peso, podendo isso ser relacionado à diminuição do gasto energético e a alterações no metabolismo corporal. A obesidade em fêmeas é mais comum do que em machos, isso quando são jovens, mas em cães com mais de 12 anos de idade a incidência é de aproximadamente 40% para ambos os sexos.
DMRevista: A castração pode aumentar a predisposição para obesidade?
Ronaldo Medeiros de Azevedo: Sim, uma vez que há redução das concentrações de andrógenos e estrógenos, os quais induzem comportamentos associados com a reprodução, incluindo a procura por um companheiro; ou pela remoção de hormônios, tais como estrógenos, que atuam como fatores de saciedade do sistema nervoso central. Dessa forma, se o proprietário que castra seu animal não tiver consciente da redução na necessidade energética que ocorre e continua a alimentá-lo da mesma maneira que antes, pode ocorrer ganho de peso após a castração.
DMRevista: Como tratar a obesidade dos animais?
Ronaldo Medeiros de Azevedo: O tratamento pode ser simples, muitas vezes apenas uma mudança na dieta do animal já é suficiente. Mas para um programa de redução de peso, o componente mais importante é a cooperação do proprietário, se esta não for total, o objetivo não é alcançado. Inicialmente o proprietário deve ser esclarecido que a obesidade pode trazer consequências graves para a saúde do seu animal e que essas podem ser reversíveis com a perda de peso, para que só assim sejam estabelecidas as mudanças no regime alimentar e no estilo e vida do animal. O manejo dietético para perda de peso, além da redução calórica, inclui a modificação da frequência da ingestão diária. Animais que são alimentados uma vez ao dia são mais predispostos à obesidade do que aqueles alimentados várias vezes com pequenas quantidades. Isso ocorre porque o aumento na frequência alimentar leva à perda energética através da termogênese.
Conforme o veterinário Ronaldo Medeiros de Azevedo, o proprietário deve informar-se junto aos profissionais, o alimento ideal para seu animalzinho de estimação. Veja suas dicas sobre o que se atentar:
Idade – Filhotes, jovem adulto e sênior
Tamanho – O tamanho do animal leva em consideração a necessidade energética, um pinscher tem necessidade diferente de um dog alemão. Os croquetes das rações devem ser adaptados ao tamanho do animal
Sexo e Reprodução – existem alimentos específicos, como por exemplo, para gestação e amamentação.
Raças específicas – Alimentos com necessidades ideias para cada raça
Animais Geriátricos – Alimentos com balanceamento para animal idoso.