PRESIDENTE DO SECEG FALA AO JORNAL O POPULAR SOBRE AUMENTO DA ROTATIVIDADE NAS EMPRESAS

Francisco de Assis Costa Filho trabalha hoje como entregador e supervisor de hortifrutigranjeiros em um supermercado. Ele sempre ficou pouco mais de um ano nas empresas onde trabalhou e trocava em busca de melhores condições de trabalho e maiores salários. Hoje, ele está há 2 anos no atual emprego, que também deixará daqui a um mês, pois vai se casar e mudar para a cidade da noiva, em Minas Gerais. “É ruim ficar trocando de emprego.

Muitas vezes você acha que vai melhorar, mas acaba se arrependendo”, admite. O pedreiro Vitoir Alves Taveira já trabalhou em várias construtoras com carteira assinada. Em algumas, fica menos de seis meses, apenas enquanto dura uma obra. Faz o acerto e passa para outra obra, onde é recontratado, sistema adotado pela maioria das empresas do setor.

Quando não encontra ocupação com registro numa construtora, ele trabalha numa obra particular, por empreita. “A vantagem de trabalhar com carteira assinada é receber todos os direitos trabalhistas no final da obra”, diz. Seja pelo sistema de contratação da empresa ou por opção dos próprios empregados, a crescente rotatividade do mercado de trabalho virou motivo de preocupação.

De acordo com os últimos dados consolidados, a taxa de rotatividade dos trabalhadores registrados subiu mais de 10 pontos porcentuais em 10 anos no País. Para cada 100 vínculos de trabalho em 2002, 53,9 foram rompidos no decorrer do ano, número que subiu para 64 em 2012.

Neste período, o tempo médio de emprego caiu de 64 para 59 meses no Brasil, e passou de 59,3 para 55,8 meses em Goiás, segundo o Ministério do Trabalho. PEDIDO DE DEMISSÃOUma pesquisa global da Robert Half, realizada com 1.775 diretores de Recursos Humanos de 13 países revelou que a rotatividade de colaboradores nas empresas brasileiras cresceu 82% desde 2010, mais que o dobro da média mundial de 38%. Mas o que mais preocupa é o grande crescimento de desligamentos a pedido do funcionário: de 15,8% em 2002 para 25% em 2012, enquanto a participação das demissões sem justa caiu.

A taxa de rotatividade mensal em Goiás foi de 5,02% em maio deste ano, contra 3,8% em maio de 2003. Estudos mostram que os empregados estão trocando mais de empresa em busca de melhores salários, mais reconhecimento e benefícios e de um melhor ambiente de trabalho. Outros reclamam de sobrecarga, falta de perspectivas de crescimento e dificuldade de conciliar trabalho e vida pessoal. Com isso, as empresas já apontam prejuízos como aumento dos custos com recontratação, desequilíbrio no clima organizacional e queda da produtividade.

O País também acaba pagando parte dessa conta: entre 2002 e 2012, o número de beneficiários do seguro-desemprego cresceu 72%, chegando a R$ 35 bilhões anuais, o que obrigou o governo a endurecer as regras para acesso ao benefício. O setor da construção civil lidera as taxas de rotatividade, até pela característica das contratações, já que as empresas costumam demitir e recontratar seus funcionários a cada ciclo da obra. “Temos associados que, durante um ano, passam por três ou quatro empresas”, diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção e Mobiliário de Goiânia, José Braz Constantino.

Segundo ele, esse sistema de contratação por obras é um dos maiores problemas atuais para os trabalhadores, que acabam emendando trabalhos e ficando muito tempo sem férias. Ao mesmo tempo, muitos acabam caindo na informalidade entre uma obra e outra. COMÉRCIOOutro setor que sofre com a alta rotatividade de trabalhadores é o comércio. O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio de Goiás (Seceg), Eduardo Amorim, garante que houve uma queda na rotatividade, mas reconhece que ela ainda é alta.

Para ele, o número de demissões de funcionários com menos de um ano de casa é maior por conta dos gastos menores com despesas trabalhistas. Mas esse processo também depende muito da sazonalidade do comércio, principalmente por causa das datas promocionais, como Natal e Dia das Mães, quando são contratados muitos trabalhadores temporários. Já a decisão do trabalhador de permanecer ou nãono emprego, segundo Eduardo, depende muito do salário e dos benefícios oferecidos.

A empregabilidade elevada é outro fator de estímulo à troca. “Antigamente, quando uma empresa pedia candidatos para nosso banco de empregos, enviávamos 20 pessoas. Hoje, mandamos apenas duas ou três”, ressalta. O aumento da renda das famílias também permite escolher mais o emprego hoje. “Com o pai e a mãe bem empregados, os jovens já não aceitam qualquer emprego e salário”, destaca. Para ele, hoje as pessoas não têm mais tanto medo de perder o emprego como antes, pois sabem que logo podem conseguir outra colocação.

Prejuízos para trabalhadores e empresários

Para o proprietário de dois supermercados na periferia de Goiânia, o empresário João André Sobrinho, a rotatividade se tornou um problema grave. Ele conta que precisa contratar três funcionários toda semana até conseguir ficar com apenas um. A maioria não aceita cumprir o mínimo de obrigações da função e não fica nem uma semana. “Muitos nem avisam que não vão ficar. Só ligam cobrando os poucos dias trabalhados e ainda querem mais direitos”, garante.

Outros entram e ficam apenas os três meses do contrato de experiência. Alguns que ficam mais de seis meses, logo começam a forçar uma demissão de olho no seguro-desemprego. Uma das atitudes mais comuns é faltar ao trabalho várias vezes. Para o empresário, isso tem gerado altos custos para a empresa por causa dos encargos sociais.Para o presidente do Conselho Regional de Contabilidade (CRC-Goiás), Elione Cipriano, o prejuízo é para empregados e empregadores, que têm custos com treinamentos e aprendizagem de seus processos.

Ele prevê que, com o início do eSocial, os custos serão ainda maiores, já que será preciso colocar todas as admissões e demissões no sistema on-line. “Quanto mais demissões, maior o risco de erros nesse sistema”, alerta. Elione lembra que procedimentos para admissão e demissão exigem várias providências por parte das empresas, que geram custos, pois envolvem toda uma legislação trabalhista, que pode variar conforme o sindicato. “Isso aumenta o trabalho contábil e eleva os custos para a empresa, inclusive com os honorários”.

Quando o funcionário força uma demissão, por exemplo, a empresa é obrigada a arcar com uma multa de 40% sobre o FGTS. O trabalhador também é prejudicado por ter vários registros de poucos meses em carteira. Currículos assim podem gerar insegurança nas empresas. Cleudimar Alves de Oliveira, gerente de Operações e Novos Negócios do hipermercado Hiper Moreira, nunca esteve nas estatísticas de rotatividade.

Ele está há 24 anos na empresa, onde conseguiu seu primeiro emprego, quando tinha apenas 14 anos. “Nunca pensei em trocar de emprego porque gosto da empresa e não queria começar do zero”. Cleudimar começou como pacoteiro e passou pelo açougue e panificadora. Foi repositor, gerente de reposição, chefe de depósito, subgerente e gerente de loja. Seu objetivo é continuar crescendo na empresa e se aposentar nela, onde teve muitas oportunidades de crescimento.

 

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