Fiação exposta em caixas de energia elétrica em prédio comercial de Campinas
A ocorrência de cinco incêndios em um período de 17 meses em estabelecimentos comerciais do Setor Campinas é reflexo de uma realidade preocupante. Operação realizada pelo Corpo de Bombeiros nas lojas na última semana mostra que 84,86% dos empreendimentos correm alto risco de incêndio por não estarem adequados às normas.
Ao todo, 1.579 locais foram vistoriados, sendo que 1.340 receberam notificações e apenas 239 estavam dentro da conformidade. Os empresários têm 72 horas para entrar com processo de regularização e realizar os reparos necessários para que possam ter o Certificado de Conformidade (Cercon).
O documento dos bombeiros é necessário para obter outras liberações junto a órgãos públicos, assim como a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART). Segundo o tenente-coronel Pablo Lamaro Frazão, chefe do Departamento de Proteção contra Incêndio do Corpo de Bombeiros, as lojas do Setor Campinas cometem erros básicos que intensificam o risco, como o vencimento dos extintores de incêndio ou mesmo a perda de carga dos mesmos que não é reposta. Além disso, o risco aumenta pela grande quantidade de materiais inflamáveis guardados nas lojas.
Frazão explica que, especialmente na região dos atacadistas próxima à Avenida Anhanguera, muitas lojas possuem galpões utilizados para estoque de produtos, especialmente de papelaria ou alimentícios, o que faz com que um incêndio, a princípio pequeno, possa ser agravado. Inicialmente, o foco poderia ser contido com o extintor, até a chegada dos bombeiros, mas estes estariam sem carga ou vencidos. Outro grave problema é que essa grande quantidade de objetos são colocados de qualquer maneira e chegam a obstruir um local que poderia ser utilizado como saída de emergência.
As saídas de emergência, ainda, são pequenas e mal sinalizadas na maioria dos casos vistoriados pelos bombeiros na última semana. “Falta uma conscientização dos empresários de que o investimento em segurança, mesmo que caro, é necessário”, define Frazão. Investimento que também deve ser feito para a reforma do sistema elétrico das lojas, que é muito antigo, dada a idade de construção dos estabelecimentos. Em muitos casos, todos os prédios de um mesmo quarteirão são ligadas a uma mesma caixa elétrica, o que mostra a sobrecarga do sistema.
EMPRESÁRIOS – Frazão explica que os empresários devem contratar um especialista para avaliar qual a melhor solução para cada tipo de instalação. “Nesses casos, um engenheiro deve avaliar a melhor situação e aí gerar o ART que, posteriormente, vai ser analisado pelos bombeiros para o Cercon”, explica. Presidente da Associação dos Empresários do Setor Campinas, Margareth Maia Sarmento confirma que há riscos graves de incêndio na região, sobretudo pelo sistema elétrico das construções.
No entanto, ela ressalta que também há problemas do lado de fora das lojas, de responsabilidade do poder público.
A empresária afirma que a ação dos bombeiros em Campinas é válida, sobretudo para vistoriar as instalações mais antigas, mas que também deve cobrar do governo ações que visam reduzir os riscos de incêndio ou aumentar as chances de contenção.
O principal caso é a falta de hidrantes na região, em que os bombeiros afirmam que devem ser instalados nos edifícios, pelos empresários, enquanto os comerciantes dizem que esta responsabilidade deveria ser dos agentes públicos. “Todo o conjunto de Campinas acaba favorecendo os riscos, tentamos conscientizar os empresários para um trabalho coletivo, mas precisamos de apoio”. diz Margareth.
Após a entrada no processo de regularização de seus estabelecimentos por parte dos empresários, em até 72 horas, o Corpo de Bombeiros realiza uma recomendação em que coloca o prazo para que a mudança deve ser efetuada. O prazo pode ser imediato, como em relação aos extintores, ou variar entre 30 e 120 dias, dependendo do tempo necessário para uma reforma ou alteração no projeto da loja.
Caso nada seja cumprido por parte dos empresários e a depender do risco a que o estabelecimento é exposto, os bombeiros podem pedir até mesmo a interdição do local.
Atacadista incendiada continua fechada – Há um mês, um incêndio de grandes proporções foi iniciado na Atacadista Aquarela Doce Festa, na esquina da Avenida Anhanguera com a Rua José Hermano, em Campinas. O acidente, ainda com motivação desconhecida, atingiu diversas lojas vizinhas.
O atacadista continua fechado, e há indícios de uso do local por moradores de rua e usuários de droga. O incêndio acabou prejudicando outras 12 lojas da quadra em que fica o atacadista. Além disso, a calçada em frente à loja, hoje está tomada por ambulantes que aproveitam a movimentação do local.
De todas as lojas da quadra, na tarde da última segunda-feira, apenas seis estavam em funcionamento. Outras quatro já estavam em reformas dos estragos causados pelo incêndio no início de junho. A previsão destas é que as obras terminem até o final de agosto, quando voltariam a ser abertas ainda para aproveitar as boas vendas do segundo semestre, em função do Dia das Crianças e, especialmente, o Natal.
Já na Atacadista Aquarela, as portas foram abertas à força e a reportagem verificou materiais de uso pessoal dentro do local, ainda com todos os resquícios do incêndio.
Um ambulante que não quis ser identificado afirma que mudou seu local de atuação na Rua José Hermano depois que a loja foi fechada pelo incêndio, com a intenção de faturar ainda mais pela maior movimentação naquele lado da rua, já que fica em frente a outros dois grandes atacadistas. Apesar dos riscos de um novo incêndio das imediações, os empresários, trabalhadores e consumidores ouvidos pela reportagem afirmam que não há medo de um acidente. Todos se referem ao caso de junho como uma infelicidade ou, no máximo, mal cuidado dos proprietários.