Estoques altos preocupam 30% dos comerciantes goianienses

As vendas do Natal de 2014 não foram o esperado pelo comércio e o resultado disso é que o varejo goianiense começou o ano com excessos no estoque. Esse é um problema que mais de 30% dos pequenos empresários da capital, com até 50 funcionários, estão enfrentando já na primeira semana de 2015. A informação é da pesquisa do Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC), referente a dezembro, divulgada ontem pela Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio GO).

Segundo o presidente da Fecomércio, José Evaristo dos Santos, esse resultado negativo é uma consequência da redução das vendas de dezembro, somado ao endividamento de quase 63% das famílias goianienses. As condições da economia também não estão favoráveis às compras, com aumento da inflação, alta dos juros e do dólar, pressionando os preços.

“Tudo isso atrapalhou e continua atrapalhando o comércio a aquecer a demanda e, com estoque parado, os comerciantes acabam também com o capital parado”, comentou José Evaristo. Conforme ele, a maioria dos que estão com estoques acima do adequado para essa época do ano trabalha com roupas e calçados.

A empresária Margareth Sarmento – da Pé & Cia Calçados -, por exemplo, está com os estoques cheios. Segundo ela, nem mesmo o fato de ter comprado menos para o Natal ajudou a escoar os produtos, que ainda estão na loja, tomando espaço das novas coleções.

O acúmulo no estoque também foi motivo de reclamação entre muitos outros varejistas e, embora o problema pareça geral, a empresária afirma que está tomando providências e apelando para a criatividade, já que as contas estão chegando e precisam ser pagas, mesmo se os estoques estiverem intocados. “Estamos preparando uma liquidação.”

LIQUIDAÇÕES

Conforme o presidente da Fecomércio, a estratégia adotada por Margareth Sarmento se mostra mais acertada para a momento. As liquidações, que são normais nesse período, são última chance do comércio tentar cobrir o prejuízo e compensar as despesas que teve com o fim do ano.

“É hora de baixar os preços e deixar tudo ao alcance do consumidor, mesmo que isso não represente um grande lucro para os caixas dos empresários”, ressalta. Conforme Evaristo, o mais importante é garantir que as dívidas sejam quitadas e que o comerciante não precise recorrer aos empréstimos bancários, diante de uma Selic – taxa básica de juros – tão alta.

Para Evaristo, a esperança agora é que liquidações e saldões consigam, finalmente, devolver o equilíbrio aos estoques dos comerciantes de pequeno porte. “Afinal, eles precisam de capital de giro para preparar as empresas para 2015.”

QUEDA NA CONFIANÇA

Mas os estoques acima da média não foi o único problema identificado na pesquisa realizada pela Fercomércio Goiás, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio (CNC). Segundo dados do levantamento, a confiança dos empresários no comércio também caiu, passando de 111,9, em novembro de 2014, para 111,6, em dezembro do mesmo ano. Isso, levando em consideração a metodologia, que considera uma escala de 0 a 200 pontos, em que 100 é o limite entre a insatisfação e a satisfação.

Em comparação a dezembro de 2013, a queda na confiança do comerciante goianiense sofreu uma baixa superior a 12 pontos, levando em consideração que o índice estava em 123 pontos. Segundo o presidente da Fecomércio, o resultado do último trimestre – que variou de 111,1 pontos a 111,6 pontos – foi o pior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2003.

Para José Evaristo, essa baixa no moral do segmento nada mais é que uma consequência do momento econômico e político pelo qual o País está passando. “O cenário de descontrole financeiro do País e a troca das equipes do governo que cuidam da parte econômica estão sendo encarados como um período de incertezas e cautela, tanto por parte dos comerciantes quanto por parte dos consumidores, que também pararam de comprar.”

Até mesmo as contratações para o ano de 2015 estão comprometidas devida a falta de confiança dos empresários. Embora em dezembro esse índice tenha subido de 129 pontos para 138,2 pontos, em decorrência do Natal, a expectativa dos comerciantes é que a taxa de contração não seja muito alta. Dentre as 221 empresa que participaram da pesquisa, quase 62% planejavam aumentar o quadro de funcionários em 2015, enquanto somento 19% projetavam aumentar o número de empregados.

O aumento do quadro de funcionários também não está nos planos da Rival Calçados. Segundo o gerente comercial da loja, Walbis Suel, poucos dos temporários contratados no final de 2014 foram efetivados esse ano e não há vagas disponíveis para novas contratações. “Devido aos resultados do ano passado, com números até negativos em nossos balanças, resolvemos reduzir as expectativas de crescimento da empresa”, contou.

Já com relação aos investimentos, o gerente defendeu cautela, para que haja um melhor aproveitamento dos recursos. A expectativa da Rival e de outras empresas do setor, conforme ressaltou Walbis, é de que 2015 seja um ano até mais difícil para o comércio que o anterior.

Indústria pode ser atingida

Tanta instabilidade e insatisfação por parte do comércio não vai demorar a refletir sobre os cidadãos e, claro, sobre o País de forma geral. De acordo com José Evaristo, além da óbvia redução dos empregos, deve haver queda no repasse de tributos, devido às vendas reduzidas , e, possivelmente, uma crise no setor industrial.

“Se o comércio, que é a ponta do segmento, está passando por dificuldades, para quem a indústria vai vender? E olha que o ano passado foi o segundo consecutivo a fechar com crescimento negativo”, ponderou.

De acordo com o presidente, esse cenário de pouca confiança e de grandes insatisfações, no entanto, não é um ‘privilégio’ apenas dos goianienses. Devido ao momento de contenção que o comércio está vivendo, indústrias em todo o Brasil já começaram a enxugar o quadro de funcionários, a exemplo da Ford, em São Paulo, que demitiu 160 empregados de uma só vez, na última terça-feira.

“Gostaria de ser otimista ao ponto de acreditar que a economia vai melhorar nos próximos meses, mas isso não deve acontecer em curto prazo”, disse José Evaristo. Para ele, a forma de melhorar a situação é por meio de medidas que mudem o sistema de tributação do setor.

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