O aumento do desemprego deve estancar ou até mesmo reverter a melhora social observada nos últimos anos. No período de crescimento econômico, entre 2004 e 2013, a formalização do mercado de trabalho e os aumentos reais dos salários ajudaram a melhorar o quadro social da economia brasileira.
As estatísticas mais recentes mostram a forte deterioração do mercado de trabalho, que pode levar a uma piora da distribuição de renda. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua divulgados na sexta-feira mostraram que a taxa de desemprego chegou a 9% no trimestre encerrado em outubro de 2015 – a maior da série histórica iniciada em 2012. No mesmo trimestre de 2014, a taxa era de 6,6%.
Nos anos de forte crescimento da economia brasileira, o mercado de trabalho contribuiu para a redução da desigualdade social por meio da queda do diferencial de salários. Ou seja, trabalhadores menos qualificados tiveram aumentos salariais maiores do que quem estava no topo da renda nacional.
Com a piora do mercado de trabalho, essa reversão já pode ser observada. No ano passado, pelos dados da Pnad Contínua, o salário médio de um brasileiro com curso superior era 342% maior que o de um trabalhador sem instrução ou com o ensino fundamental incompleto. Em 2014, a diferença era de 332%.
“A desigualdade por meio do diferencial de salário começou a aumentar nos últimos meses”, diz Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper e responsável pelos dados. “Esse cenário reflete a piora da situação dos menos qualificados”, diz. Uma análise mais certeira do estrago que crise atual causou ou não na distribuição de renda do País só será possível quando todas as fontes de renda da economia estiverem disponíveis.
Reversões de melhorias. Para o brasileiro, o aumento do desemprego tem significado uma série de regressos nas melhorias conquistadas nos últimos anos. A vigilante patrimonial Adriana Ferreira, de 36 anos, está desempregada há um ano. No seu processo de ajuste pessoal, teve de cortar a TV a cabo, o telefone fixo e o lazer. “Antes, a minha família passeava e viajava mais”, conta Adriana. “As crianças se vestiam melhor. Até isso deu uma caída.”
Para o pizzaiolo Alessandro José Neto, de 43 anos, o desemprego chegou há dois anos e custou uma casa na praia e a venda de um carro. “Se a pessoa desempregada não faz bico, ela passa fome”, afirma. Na semana passada, conseguiu um emprego. Vai ajudar na limpeza do carnaval de São Paulo por dez dias.
Também é com emprego temporário que o açougueiro Alexandro Oliveira Santos, 42 anos, vai sobrevivendo. “Tem de correr atrás do serviço. Já fiz bico para fazer pintura e até segurança encarei. Não posso deixar meu filho passar fome.” Ele está desempregado há nove meses.