Lojistas fazem caminho de volta à Bernardo Sayão

As dificuldades impostas pela pandemia do coronavírus levaram o confeccionista Rogério Nogueira a fechar duas lojas que tinha em um grande shopping na Região da 44. “Levei meu estoque para casa porque o aluguel era muito caro”, lembra o empresário, que passou a investir nas vendas on-line, mas ainda precisava de um showroom para divulgar as roupas masculinas que produz. Foi então que ele soube que poderia alugar um ponto dez vezes maior na Avenida Bernardo Sayão por um quarto do preço que pagava. “O movimento é menor, mas o custo benefício vale muito a pena. A diferença no valor do aluguel uso para divulgar mais minha marca e expandir minha atuação nas plataformas on-line. Agora, tenho bem mais espaço para expor meu produto e perspectivas melhores.”

Nos últimos quatro anos, a Avenida Bernardo Sayão foi palco de uma verdadeira debandada de lojistas: dos cerca de 2.280 pontos comerciais na avenida e ruas transversais, menos de 1 mil continuaram ocupados. Muitos confeccionistas foram atraídos pelo crescimento da Região da 44, que se tornou um polo conhecido em todo País. Mas as dificuldades trazidas pela pandemia provocaram algumas mudanças, como o crescimento das vendas on-line, que fizeram muitas marcas repensarem seus custos operacionais, como os gastos com aluguéis. 

Vendo uma oportunidade que se desenhava para trazer os lojistas de volta para o antigo polo, a Associação Comercial e Industrial da Avenida Bernardo Sayão e Região (Acibs) se reuniu com proprietários de imóveis na avenida para propor uma ação que pudesse elevar a atratividade da região: uma redução nos valores dos aluguéis e carência de 90 dias para o pagamento. Eles aceitaram e os valores praticados, que antes oscilavam entre R$ 2 mil e R$ 7 mil, hoje estão entre R$ 500 e R$ 2 mil. A estratégia tem dado certo. Um recente levantamento feito pela Acibs mostrou que mais de 500 pontos comerciais que estavam fechados foram reocupados nos últimos meses.

A reocupação da avenida foi acelerada pela pandemia. “Mudaram os canais de venda, que se diluíram em várias plataformas. Com o apoio dos corretores de moda, hoje o lojista pode atrair o comprador para onde ele estiver”, justifica o presidente da Acibs, Cairo Myron Ramos. Para ele, neste novo cenário, toda aquela infraestrutura anterior para vendas físicas, como transportes e hotelaria, já não têm mais tanto valor agora, com as vendas cada vez mais delivery. “Agora, o cliente vem uma vez conhecer a fábrica e a loja, mas não precisa voltar sempre que quiser comprar lá.”

Cairo ressalta que quarteirões inteiros que estavam vazios na Bernardo Sayão hoje já estão ocupados de novo. Proprietário de uma sala com 3,5 metros de frente e 19,5 metros de comprimento em plena avenida, Guedson Rodrigues da Silva reduziu o valor do aluguel que cobrava de R$ 2,6 mil para apenas R$ 500. “Eu já tinha vendido outras duas salas e a outra estava desocupada há praticamente dois anos. Resolvi que era melhor pingar do que faltar e ainda contribuir com a retomada da região”, justifica. 

Até 2017, o empresário Ageu Faria Mendes estava instalado na região da Bernardo Sayão, quando resolveu se mudar para um shopping atacadista, acompanhando o fluxo de lojistas que deixou o polo. Há cerca de um mês, ele resolveu voltar. Desta vez, para um ponto na própria avenida, onde ele paga 50% do que pagava no shopping onde estava antes e até bem mais barato que no ponto que tinha antes da mudança, numa rua transversal à Bernardo Sayão. “Você precisa ter um bom ponto para transmitir credibilidade, mas isso não é garantia de boas vendas. O mais importante é ter um bom relacionamento com o cliente, em várias plataformas de comunicação. Hoje, essa proximidade é mais on-line”, justifica o empresário, que gera seis empregos.

Os lojistas ressaltam que o apoio dos corretores de moda tem sido essencial para atrair os clientes neste retorno. Para a presidente do Sindicato dos Corretores de Moda de Goiás (Sindasgo), Lu Montenegro, a Bernardo Sayão propicia uma mobilidade maior ao lojista, independente de estar num polo. “Dentro de um shopping, ele tem que seguir o regimento interno. Na avenida, ele pode abrir ou não, tem mais domínio sobre seus processos comerciais”, destaca.

A parceria com os corretores possibilita que o lojista amplie sua possibilidade de negociação, com clientes de várias partes do País e do mundo. Para Lu, este retorno também deve beneficiar empreendimentos como o Mega Polo e o Goiás Center Modas. “Durante a pandemia, os corretores continuaram trabalhando e mandando mercadorias para vários lugares onde ainda não havia isolamento social. Começamos cedo a trabalhar com drive thru e delivery. O mais importante é manter contato próximo com o cliente, esteja onde estiver”, lembra.

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