As medidas de isolamento social para evitar a proliferação do coronavírus impactaram fortemente o mercado de trabalho em Goiás e no Brasil. Em maio, 479 mil pessoas ainda estavam afastadas do trabalho por causa da pandemia, o equivalente a 15,4% da população ocupada no Estado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Covid-19, divulgada ontem pelo IBGE. Mais da metade destes trabalhadores afastados deixou de receber alguma remuneração, o equivalente a 305 mil pessoas.
Antes da pandemia, Lucia Vieira Fernandes trabalhava como vendedora de pacotes de festa em bufê infantil da capital, onde ela já estava há cerca de dez anos. Ela lembra que, cerca de 15 dias após o isolamento social ter sido decretado pelo governo estadual, no dia 19 de março, os funcionários tiveram seus contratos de trabalho suspensos dentro da Medida Provisória 936. Com isso, sua remuneração mensal, que antes oscilava entre R$ 2,5 mil e R$ 3 mil, foi reduzida para R$ 1.240.
“Eu fui muito prejudicada porque recebia comissão pelos pacotes vendidos. Nosso ramo de festas foi um dos mais afetados porque nem sabemos quando poderemos voltar a trabalhar”, avalia Lucia. Agora, o bufê onde ela trabalhava ofereceu um acordo para o desligamento dos funcionários. A estimativa é de que cerca de 90% dos trabalhadores ligados à realização de eventos em geral já tenham sido demitidos.
Mais afetados
A pesquisa foi realizada com apoio do Ministério da Saúde para identificar os impactos da pandemia no mercado de trabalho e quantificar as pessoas com sintomas associados à síndrome gripal no Brasil. De acordo com o superintendente do IBGE em Goiás, Edson Roberto Vieira, entre os trabalhadores mais afetados pelo afastamento do trabalho, além dos ligados aos setores de turismo e eventos, estão os do comércio, os empregados domésticos, diaristas e com ocupações informais.
A feirante Maria do Carmo Rodrigues tinha como única fonte de renda uma pequena banca na Feira Hippie. Desde março sem poder trabalhar, sozinha com dois filhos pequenos e ainda enfrentando um câncer na mama, ela conta que ficou totalmente sem renda e está vivendo da ajuda de parentes e amigos, além do auxílio emergencial do governo, de R$ 1,2 mil, liberado em maio. “Não há trabalho no mercado. Passei muita necessidade até conseguir o auxílio”, lembra.
O superintende do IBGE em Goiás lembra que muitos trabalhadores tiveram os contratos de trabalho suspensos e passaram a depender do recurso liberado pelo governo, que geralmente foi menor que sua renda anterior, sofreram com o corte de horas trabalhadas ou simplesmente perderam toda remuneração. Para muitos, o socorro veio do auxílio emergencial de R$ 600 ou R$ 1,2 mil do governo federal. Entre as pessoas que continuaram ocupadas no mercado, muitas perderam renda: em maio, elas receberam cerca de 80% da média normal, uma redução de R$ 422.
Desalento
A pesquisa também mostrou que 412 mil pessoas deixaram de procurar trabalho por conta da pandemia em maio. Edson lembra que esses trabalhadores optaram por não buscar uma vaga no mercado de trabalho por medo da pandemia ou por acharem que não existem vagas disponíveis neste momento. “São pessoas que não procuraram trabalho, mas que gostariam de trabalhar”, destaca.
A Pnad Covid-19 revelou que apenas 9,4% dos trabalhadores ocupados trabalharam de forma remota em Goiás em maio, porcentual menor que a média nacional, de 13,3%, equivalente a 238 mil pessoas. “Geralmente, os trabalhadores que podem ficar no regime de home office são aqueles com nível superior. As atividades mais básicas não costumam oferecer esta possibilidade”, comenta o superintendente.