Apesar de o mundo já ter enfrentado, neste século, grandes crises financeiras, como a de 2008, e epidemias, como a H1N1, os desafios trazidos pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) são sem precedentes. É a primeira vez que essa geração precisa utilizar medidas mais enérgicas para conter a disseminação da doença. E, no atual cenário, no qual a situação muda a todo instante, fica difícil prever qualquer movimento de mercado, seja qual for o setor. As empresas e funcionários estão tentando se adequar a recomendações dos órgãos públicos: ficar em casa. Mas não é tão simples quanto parece lidar com este panorama. Porém, a adaptação é a palavra-chave para enfrentar os desafios.
São dois cenários bem distintos: de um lado há companhias – de segmentos específicos – que conseguiram transferir a sua operação para as casas dos colaboradores. No entanto, nesse caso, mesmo empresas de tecnologia, que já trabalhavam com alguma forma de processo remoto antes, também passam pelo processo de adaptação. Não se trata só de deixar o funcionário em casa. Para colocar a operação rodando, são necessários investimentos, principalmente em equipamentos, tecnologia e logística para oferecer infraestrutura que possa atender o dia a dia da empresa. A adequação envolve, ainda, fornecedores, clientes e, claro, os funcionários, que precisam se adaptar à realidade do trabalho remoto.
Na outra ponta, temos empresas – e aqui a grande parte do segmento que faz a economia rodar e gerar empregos – que não conseguem essa movimentação do teletrabalho. Seja porque atuam na área de serviços, sobretudo o pequeno e médio empresários que não têm fôlego financeiro para manter o negócio sustentável, seja porque têm de manter em pé um parque industrial. Para esses segmentos, como comércio, serviços e indústria, o resultado pode ser extremamente delicado, cuja fórmula começa na parada da produção, que segue para a falta do consumo e termina no desemprego, o mesmo que assola a população brasileira desde 2014 – e, ainda que a passos lentos, mostrava uma recuperação antes do Covid-19.
Para essas empresas, faz-se necessária a intervenção das três esferas governamentais (federal, estadual e municipal), a fim de ajudá-las por meio de flexibilização das normas e estabilização dos índices para que a economia continue a se movimentar e para que empresas, principalmente as pequenas e médias, consigam fôlego para se manterem ativas durante este período. O objetivo é evitar que o desemprego atinja patamares inéditos e tenha alto impacto nas camadas mais vulneráveis da população.
No entanto, é fato – ainda que neste primeiro momento pareça distante de muitos – que situações de crise também levam a oportunidades. É inerente ao ser humano, quando desafiado, procurar soluções criativas. E isso não é diferente com as empresas, que são formadas por pessoas. Todos, inclusive o universo empresarial, sairão diferentes e com mais iniciativas, ainda que seja um processo que pode variar no tempo.
Comércio e serviços, os setores justamente mais impactados nesse momento inicial de confinamento, já demonstram a teoria na prática, a começar pela adaptação de seus processos, como o sistema delivery, pedidos por aplicativos, implantação de e-commerce, entre outras iniciativas que foram tomadas, em muitos casos, da noite para o dia. E como será o amanhã? O cenário pós crise? A adaptação, conceito chave durante a pandemia também será o caminho para a readaptação do mercado de trabalho. Nos últimos dias, vários questionamentos surgiram nos empregadores, como: dou continuidade ao que estava programado? Como atender minha demanda interna com as diretrizes dos órgãos públicos?
Pelo lado dos candidatos, as dúvidas também apareceram, afinal, como serão realizados os processos seletivos? Como encontrar oportunidades nesse período? Como me destacar num momento de escassez de vagas? E se eu for contratado? Como resposta, todo o mercado também está se reorganizando, mas há oportunidades. Algumas áreas, como esperado, estão com demandas maiores como saúde, medicina, varejo alimentício, tecnologia e comércio eletrônico. E, para manter o ritmo, estão estabelecendo parâmetros como entrevistas e dinâmicas por vídeo e contratação remota para conseguirem manter suas ações em andamento. Para os candidatos, é o momento de investir ainda mais nas suas qualificações, no aperfeiçoamento de suas habilidades, no seu networking, e até identificar caminhos para se adaptar ao que vai surgir.
É nesta hora que as soluções e iniciativas surgem para que todos possam contribuir da melhor forma possível para manter a economia funcionando, mesmo que de uma forma diferente da que estamos acostumados, além de preservar empresas e funcionários para que a crise seja superada, como em outros tempos. No mais, até que tudo isso passe, que pode levar vários meses, será preciso ser flexível, se adaptar à realidade que se impõe e não parar. Se preciso, retroceder um pouco para avançar de forma mais ordenada, mas continuar em movimento. Os desafios serão diários, mutáveis e as estratégias serão extremamente dinâmicas. A retomada vai acontecer e o mercado como um todo vai, aos poucos, aquecendo, refletindo diretamente na economia, na criação de novas vagas e, muito provavelmente, novas funções. Certamente, vamos superar mais essa crise, como fizemos em todas as vezes em que elas apareceram: com iniciativa, com inovação, com responsabilidade e união de esforços.
*Fernando Morette é CEO da Catho.