Depois de um aumento, entre junho e julho, de 70% na proporção de pessoas com mais de 60 anos internadas por complicações da Covid-19, Goiás começará a aplicar doses de reforço da vacina contra a doença em idosos e imunossuprimidos em setembro. O público alvo é de cerca de 440 mil pessoas.
Apesar do crescimento de junho para julho, os idosos continuam sendo a minoria dos internados (confira quadro), tendência que vem se mantendo desde o início da vacinação. Mesmo assim, o crescimento é alarmante. “É importante que essa vacinação aconteça com rapidez porque sabemos que a proteção dessas pessoas está diminuindo”, diz o infectologista Marcelo Daher.
No Estado, durante os primeiros 15 dias de setembro, receberão o reforço os idosos com mais de 60 anos institucionalizados. Em Goiás, cerca de 21,6 mil pessoas deste grupo já completaram o esquema vacinal. Na segunda quinzena, o público com mais de 70 anos e os imunossuprimidos serão atendidos. Para receber o reforço, os idosos precisam ter completado o esquema vacinal há pelo menos seis meses e os imunossuprimidos há 28 dias.
A proporção de internados entre as pessoas com 80 anos ou mais dobrou e foi a que mais cresceu entre junho e julho. Ela saiu de 6,2% para 13,6%. A faixa etária foi seguida pelas pessoas com idade entre 70 e 79 anos, que saíram de 8,2% dos internados para 13,8%. Já entre a faixa etária dos 60 a 69 anos, a proporção saiu de 10,9% para 15,7%.
“Após seis meses de vacinação na população idosa, dada a imunossenescência (deterioração natural do sistema imunológico), começa a cair a imunidade”, destaca Ismael Alexandrino, secretário de Estado de Saúde de Goiás, sobre aumento na proporção de idosos internados em Goiás no mês passado.
Daher destaca a situação de surtos de Covid-19 em asilos goianos. O Estado já teve pelo menos seis surtos desde o começo do ano, que somaram 20 mortes. Especialistas acreditam que, caso os idosos não estivessem vacinados, os danos poderiam ser maiores. “É sinal de que a proteção começou a cair”, diz Daher.
No Estado, dos 376,6 mil idosos com mais de 70 anos, 351 mil já receberam as duas doses da vacina; 23,9 mil imunossuprimidos completaram o esquema vacinal. Nesta quarta-feira (25), o Ministério da Saúde garantiu que haverá doses suficientes para os Estados para que o reforço possa ser aplicado de maneira concomitante à finalização da vacinação dos adultos.
O titular da Secretaria de Estado de Saúde de Goiás (SES-GO), Ismael Alexandrino, informou na tarde desta quarta-feira (25), em entrevista coletiva junto com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, onde representou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) que Goiás não estará descumprindo a determinação federal sobre a aplicação da terceira dose da vacina contra a Covid-19 por também ter decidido imunizar idosos institucionalizados com mais de 60 anos.
A orientação inicial do Ministério da Saúde é que sejam atendidos idosos com mais de 70 anos e os imunossuprimidos, mas o governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou que vai vacinar também quem tem mais de 60 anos e está institucionalizado. Em Goiás, 24,5 mil pessoas deste grupo já receberam pelo menos a primeira dose da vacina.
De acordo com o titular da SES-GO eles representam um grupo pequeno e a aplicação do reforço neles vai acontecer por uma questão de logística. “É para que eles não compitam posteriormente com aqueles que vão se dirigir às unidades. Isso não atropela o que foi dito”, diz Alexandrino.
“Vamos seguir rigorosamente a orientação pactuada e anunciada pelo ministro da Saúde”, afirma. Durante a entrevista coletiva nesta quarta-feira (25), o ministro Marcelo Queiroga concordou com Alexandrino.“Se tem um governador que defende o PNI de forma fervorosa, (ele) tem nome e sobrenome. É o Ronaldo Caiado”, enfatizou.
Na última semana, Queiroga já havia sinalizado para a possibilidade de iniciar a aplicação do reforço da vacina contra a Covid-19 no Brasil. Entretanto, os dois grupos que ele apontou como prioritários na ocasião foram os idosos e os profissionais de saúde. Nesta quarta, ele disse que o Ministério da Saúde já encomendou estudos sobre a necessidade da vacinação deste grupo.
Representantes do ministério apontam que ainda são necessários mais estudos sobre a proteção que os profissionais da saúde possuem. “Eu pedi uma avaliação da morte e da mortalidade dos profissionais da saúde. Se houver evidência robusta, que evidencia a necessidade de ampliar a dose de reforço nos profissionais, nós o faremos”, disse o ministro da Saúde.
O infectologista Marcelo Daher acredita que a vacinação dos profissionais da saúde é importante, pois eles são a linha de frente no combate a Covid-19. Sendo assim, mesmo que eles não desenvolvam casos graves, os afastamentos causados pela doença podem prejudicar o atendimento à população. “Estamos percebendo muitos casos entre esses profissionais. Por isso, seria interessante que eles fossem incluídos”, finaliza.
Intervalo de doses diminui
O intervalo entre a aplicação da primeira e da segunda dose de vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca e da Pfizer diminuiu. Antes, o Ministério da Saúde recomendava que as doses fossem administradas com um intervalo de 12 semanas. Entretanto, agora o período entre as duas vai ser de apenas oito semanas.
De acordo com o Ministério da Saúde, a intenção é dar celeridade para o processo de vacinação contra a Covid-19 e fazer com que o País alcance mais rapidamente uma cobertura vacinal mais alta. Atualmente, apenas 35% da população brasileira com mais de 18 anos está com o esquema vacinal completo.
O ministro da Saúde explicou na tarde desta quarta-feira (25) que a decisão foi tomada pensando na quantidade de doses de vacina que o ministério já tem compradas e levando em conta que elas têm sido entregues dentro dos prazos definidos. “A expectativa é de que até o fim de outubro, toda a população brasileira adulta esteja totalmente vacinada”, disse.
Alguns locais do Brasil já começaram a antecipação. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a prefeitura abriu a “xepa” de segunda dose no início desta semana.