Ao contrário do que havia sido posto como hipótese, a pandemia deu espaço para o crescimento de vagas abertas em áreas de tecnologia, dados e produto. Além de impulsionar a expansão de negócios como food service, as vendas online tiveram crescimento expressivo. Os números comprovam isso. No primeiro trimestre de 2020, registramos crescimento de 56% comparado com o mesmo período do ano anterior. Já no trimestre seguinte, o aumento foi de 90%. Isso aconteceu devido à necessidade das empresas em desenvolver novas soluções tecnológicas para lidar com o trabalho remoto.
As que já estavam passando por um processo de transformação digital precisaram acelerar ainda mais essa transição, e as empresas que já estavam no digital precisaram investir mais ainda para manter o crescimento.
Sim, a covid-19 foi o grande responsável por acelerar o movimento de digitalização do trabalho, forçando as empresas a adequarem seus processos seletivos do dia para a noite. Contratações à distância foram remodeladas, o home office, antes visto com certo desprezo por algumas empresas, parece ter convencido até o mais avesso como uma alternativa viável e possível.
As perguntas que surgem agora são sobre o futuro: qual a perspectiva do recrutamento no pós-pandemia? O que as empresas precisarão fazer para sair na frente na busca pelos melhores profissionais? Primeiro, é preciso respirar. Feito isso, analisar o que exatamente mudou e o que está por trás da transição para o modelo de trabalho remoto.
O que muda agora em relação a essas vagas é que novas possibilidades de contratação aumentam a oferta de candidatos. Isso porque o modelo de trabalho remoto permite a contratação de profissionais de qualquer parte do Brasil, aumentando o rol de talentos que podem ter fit com as empresas.
No entanto, essa é uma realidade que passa a funcionar para milhares de empresas, dos mais diversos setores, o que significa que agora existem ainda mais corporações “lutando” por talentos qualificados por todo o Brasil, aumentando a concorrência de forma expressiva. Essa busca pelos melhores talentos ilustra bem o significado da lei de oferta e demanda, tendo como consequência o encarecimento financeiro e operacional desses profissionais. Oportunidades atrativas tornam-se mais numerosas e eles passam a ter o poder de determinar o melhor preço para o seu trabalho.
Tal encarecimento, além de forçar as empresas a revisarem as suas barras salariais, abre espaço para mais concorrentes na luta por esses talentos: as multinacionais. Para empresas em países nos quais o real é desvalorizado, torna-se extremamente lucrativo a contratação de profissionais brasileiros, que vão oferecer grande expertise em tecnologia por um preço final bem abaixo do que elas estão acostumadas a pagar.
Tudo isso indica que, se antes as empresas tinham dificuldade de contratar profissionais de tecnologia, essa realidade tende a aumentar. E isso gera uma perspectiva evidente: as empresas que não repensarem novas formas de recrutar vão perecer na luta pelos melhores talentos.
É preciso adotar a cultura “hacker” no sentido de analisar como as coisas eram feitas e entender como fazê-las de uma melhor forma. É preciso refletir sobre quais são as novas necessidades que surgem diante desse novo contexto e trabalhar de forma ativa. Esse momento indica uma necessidade de repensar o recrutamento da mesma forma analítica que um time de vendas é habituado a pensar.
A demanda para vagas de tecnologia tende a aumentar significativamente à medida que mais tecnologia vem sendo injetada na economia brasileira. Isso significa que os times de recrutamento precisam trabalhar com previsibilidade para conseguir preencher as vagas abertas com assertividade e de forma rápida. E isso demanda uma estrutura ágil e uma grande quantidade de informações, além de um processo em constante desenvolvimento.
No entanto, antes de pensar em tudo isso e promover essa transformação digital no recrutamento, faz-se necessária uma mudança de mentalidade dentro do RH. Os times precisam se desapegar da forma antiga de recrutar e desenvolver uma mente cada vez mais analítica. Em uma realidade em que tudo está sendo digitalizado de forma acelerada, o universo de recrutamento e seleção precisa nadar a favor da corrente e adotar o mesmo movimento de outras áreas do mercado: incorporar a tecnologia como principal aliada do seu desenvolvimento e sucesso.
* Paula Morais é cofundadora e CEO da Intera, startup de recrutamento digital. Foi coordenadora de recrutamento na Sanar e, antes de fundar a startup, empreendeu com uma escola de tecnologia.