FALTA MÃO-DE-OBRA E SOBRAM EMPREGOS EM DIVERSOS SETORES DE GOIÁS

 

A perspectiva de crescimento de 7,5% da economia brasileira este ano é um fato que provoca euforia no governo e nas classes empresarial e trabalhadora. Realmente é um bom motivo para se comemorar. Porém, há um lado preocupante nessa história e que constituiu um desafio para o Brasil. Esses pontos são a falta de mão de obra, a carência de infraestrutura para dar suporte a esse crescimento e até a inflação de demanda, que já começa a surgir em alguns segmentos econômicos.

Em Goiás, dentro desse novo ciclo econômico, falta mão-de-obra para todos os setores da economia: comércio, indústria, serviços e agropecuária. Não é possível estimar a quantidade de vagas de trabalho disponíveis nas empresas, mas um levantamento feito pelo POPULAR mostra que há oportunidades de trabalho para vendedores, gerentes, auxiliar administrativo, engenheiros, operadores de máquinas, costureira, padeiro, empregadas domésticas, motoristas de caminhão, vaqueiro e outros.

A diretora da Empreza Consultoria de RH, Sayonara de Castro Brotherhood, disse que o apagão da mão de obra já é uma realidade em Goiás há algum tempo, mas se agravou nos últimos meses. "Temos em aberto mais de 4 mil vagas para vários Estados, das quais mais de 400 apenas para Goiânia. Mas não conseguimos preenchê-las. Hoje, quem quer trabalhar não fica nem meia hora desempregado", afirma a diretora.

Segundo ela, muitos trabalhadores desempregados preferem ficar em casa, de braços cruzados, recebendo as seis parcelas do seguro-desemprego do que voltar à ativa. "Falta dimensão dessas pessoas para vislumbrar as oportunidades de carreira", avalia.

Diante da falta de mão-de-obra qualificada em Goiás, algumas empresas buscam candidatos em outros Estados, sobretudo do sexo masculino, inflacionando os salários.

Apelo -
O empresário Sandro Marques Scodro, da GSA Alimentos, confirma a dificuldade de conseguir no mercado mão de obra especializada, inclusive para funções básicas de fábrica. Há um ano, semanalmente, cerca de 300 pessoas formavam filas na porta da fábrica, em Aparecida de Goiânia, em busca de emprego. Agora a empresa tem de colocar anúncios em jornais e rádios, buscar apoio do Sine e de empresas de RH para preencher as vagas.

Atualmente, conta, existem cem vagas em aberto na indústria para serem preenchidas. Em 2011 serão abertas novas oportunidades porque a empresa está em expansão.

Nas lojas dos Supermercados Bretas de Goiânia e Aparecida de Goiânia estão em aberto 302 vagas para todos os cargos. "Tivemos de atrasar inauguração de novas lojas e estamos sofrendo para contratar trabalhadores, sobretudo do sexo masculino, mesmo garantindo carteira assinada e outros benefícios. Achamos que os trabalhadores, sobretudo os do sexo masculino estão preferindo o setor da construção", avalia a coordenadora de marketing do Bretas, Camila Fernandes Felipe.

A falta de pessoas que queiram trabalhar está tão grave que as empresas estão buscando até pessoas que ainda estão fazendo cursos profissionalizantes. Logo que começou a fazer o curso de gerenciamento de supermercado, o ajudante de servente Leandro Silva, 26 anos de idade, já conseguiu uma oportunidade de emprego como pacoteiro, com carteira assinada. "É o meu emprego formal. Antes eu fazia testes nas empresas e não conseguia a vaga. Foi só eu começar a estudar que as coisas começaram a melhorara ", festeja Leandro.

A menor aprendiz Aline Mendanha de Jesus, 17 anos, também conseguiu o seu primeiro emprego numa indústria de alimentos em Aparecida de Goiânia depois que começou a fazer um curso de gestão empresarial. "Vou começar a trabalhar na próxima semana e estou muito animada. Quero continuar a estudar e fazer novos cursos para fazer carreira na empresa", diz.

Gravidade
- No setor da construção civil, a mão de obra também é um problema real, iniciado há três anos e que vem se agravando dia após dia. "As empresas estão usando mais tecnologia no processo construtivo e treinando os operários para minimizar a falta de trabalhadores qualificados, mas isso ainda é pouco", constata o empresário Ilézio Inácio Ferreira, da Consciente Construtora e presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-GO).

No mercado, de acordo com Ilézio Ferreira, não há falta de mão de obra, mas sim de pessoas que queiram trabalhar. "Há um contingente grande da população na dependência dos programas sociais do governo e do seguro desemprego.

Elas estão fazendo disso uma fonte de renda e com isso não querem ir à luta", lamenta o empresário, ao afirmar que o governo precisa rever esses programas agora que a economia do País volta a crescer com força.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado (Fieg), Pedro Alves de Oliveira, diz que a falta de mão de obra qualificada trava o ritmo de desenvolvimento econômico. No comércio a situação ão é diferente. "Sim, estamos enfrentando muita dificuldade para contratar trabalhadores", confirma o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Logístas (FCDL), Agenor Braga Filho, que é diretor do grupo Novo Mundo.

O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Faeg), José Mário Schreiner, disse que no campo há carência de trabalhadores para atividades de vaqueiro, tratorista, operador de pulverizador e até de granjeiros. "A não qualificação desses trabalhadores provoca aumentos dos custos operacionais. Muitos não sabem nem ler. Daí a importância do novo governo priorizar a educação", frisa.

Treinamento é prioridade
A superintendente do Trabalho, da Secretaria do Trabalho e Cidadania, Odessa Arruda, reconhece a necessidade de se formar mais mão-de-obra para atender os diversos segmentos econômicos no Estado. Mas ela defende também a participação mais efetiva das empresas no processo.

Atualmente, no Estado, estão sendo ministrados nove cursos, com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e contrapartida do Estado. Quase 21 mil trabalhadores estão sendo formados para atuar em diversas áreas, como turismo, comércio, indústria, construção civil e outros. "Quem passa por um desses cursos já sai de lá empregado", garante Odessa.

Aos 42 anos de idade, Jano Natal Maciel Marinho resolveu mudar de profissão – ele trabalhava com a instalação de forros de PVC – e está fazendo o curso de azulejista e pedreiro no Senai. No primeiro mês do curso, ele já conseguiu uma vaga de trabalho dentro da nova área, com carteira assinada, e com o salário em dobro, de R$ 1,4 mil. "Agora já tenho uma profissão mais valorizada e a vida da minha família melhorou muito", comemora.

Este ano, conforme dados da Federação das Indústrias do Estado, o Senai vai formar 90 mil trabalhadores para o setor industrial. Na área agropecuária, o Senar está profissionalizando 65 mil pessoas. Já na área comercial e de serviços, o Senac está formando 115 mil, do menor aprendiz ao aluno do ensino superior. A meta para 2011 é aumentar em 12% esse contingente de alunos, segundo o presidente da Federação do Comércio, José Evaristo dos Santos.

Facebook
Twitter
LinkedIn