Alibaba demite funcionária que acusou chefe e cliente de estupro

A gigante chinesa do ecommerce Alibaba Group demitiu a funcionária que acusou o chefe e um cliente de estupro em agosto deste ano, informou o jornal apoiado pelo governo chinês Dahe Daily.

Em entrevista publicada pelo jornal, a funcionária conta ter recebido a notificação da demissão no final de novembro, e publicou uma cópia do que ela afirma ser a notificação da demissão enviada pela empresa.

A carta diz que a funcionária teria espalhado informações falsas sobre ter sido violentada e sobre o posicionamento da Alibaba. Na ocasião, a funcionária divulgou que o empregador não havia agido adequadamente em relação ao seu caso.

O comunicado da empresa diz ainda que a funcionária "causou grande preocupação social que teve um impacto negativo na companhia", o que ela nega.

"Não cometi nenhum erro e certamente não aceitarei esse resultado. E, no futuro, usarei os meios legais para proteger meus direitos e interesses", afirmou a funcionária na entrevista ao jornal.

A Alibaba não retornou a um pedido de resposta sobre o caso. O advogado do funcionário envolvido na acusação também não respondeu a um pedido de comentário.

Maior empresa de ecommerce da China, a Alibaba foi abalada pela acusação de agressão sexual em agosto, depois que a funcionária publicou um relato de 11 páginas na intranet da empresa afirmando que teria sido estuprada pelo chefe e um cliente durante uma viagem de negócios.

Segundo a mulher, ela foi obrigada pelo chefe a acompanhá-lo em uma viagem de trabalho para encontrar um dos clientes de sua equipe na cidade de Jinan, a cerca de 900 quilômetros da sede da Alibaba, em Hangzhou.

Na noite de 27 de julho, segundo a funcionária, o cliente a beijou. Depois de consumir álcool, ela acordou em um quarto de hotel no dia seguinte sem suas roupas e sem se lembrar do que havia acontecido. Imagens obtidas pela funcionária com funcionários do hotel mostram que seu chefe entrou quatro vezes no quarto durante a noite, afirmou ela.

O caso gerou grande comoção após o relato da mulher viralizar em redes sociais chinesas como o site Weibo. Ela também teria divulgado um cartaz relatando o caso numa das cafeterias da empresa e postado um vídeo com seu relato na intranet da companhia.

Segundo o New York Times, a empresa de Jack Ma inicialmente apoiou a funcionária e dois gestores pediram demissão por não terem tomado providências logo após a denúncia.

A Alibaba divulgou comunicado em que afirmou possuir "uma política de tolerância zero contra má conduta sexual" e atuar para "garantir um ambiente de trabalho seguro para todos os funcionários" é sua maior prioridade.

A empresa demitiu o funcionário acusado de agressão e outros dez funcionários por terem divulgado o incidente.

Os promotores chineses desistiram do caso contra o empregado da empresa em setembro, afirmando que ele cometera "indecência forçada", o que, segundo a promotoria, não constituiria crime. Os promotores, no entanto, pediram a prisão do cliente no início do mesmo mês. O caso segue sob investigação.

Na China, questões de assédio sexual e agressão raramente eram levantadas na esfera pública até o movimento #MeToo decolar em 2018, quando uma estudante universitária de Pequim acusou publicamente seu professor de assédio sexual.

A recente mudança de posição da empresa sobre a acusação reflete a cultura de trabalho tóxica da indústria de tecnologia do país e os obstáculos que as mulheres chinesas enfrentam para denunciar casos de assédio sexual, segundo o New York Times.

 

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