Atraso na entrega da carteira de trabalho prejudica trabalhador

Muita gente que precisou tirar a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) este ano reclamou da demora para pegar o documento. Alguns trabalhadores dizem que tiveram que aguardar até três meses para receber a carteira e garantem que chegaram a perder boas oportunidades de emprego, já que a maioria das empresas não contrata sem o documento.

Foi o caso do desempregado Juliano Pereira Luiz, que conseguiu receber a carteira de trabalho depois de esperar 40 dias. O pedido foi feito em meados de agosto e a data de entrega prevista no protocolo era 9 de setembro. “Já vim aqui buscar três vezes e só consegui agora”, conta. Ele garante que perdeu uma boa oportunidade de trabalho pela falta do documento.

Após protocolar o pedido no Ministério do Trabalho, a doméstica Rosimar Ferreira lembra que esperou três meses até a chegada da carteira. Ela, que já estava trabalhando, foi pressionada pela patroa, que sempre cobrava a entrega do documento. “Eu fui e liguei várias vezes, mas a carteira nunca chegava”, lembra.

COLAPSO

O presidente do Sindicato dos Empregados no Comércio no Estado de Goiás (Seceg), Eduardo Amorim, diz que o aumento na demora foi gradativo, desde a implantação do novo sistema pelo Ministério do Trabalho, que tem segurança semelhante ao da confecção de passaportes. Segundo ele, antes o trabalhador conseguia pegar a carteira de trabalho em até uma semana, prazo que chegou a 60 dias, beirando um colapso.

“Quem está procurando um emprego não tem como esperar tanto tempo porque as empresas exigem o documento na hora”, destaca Eduardo. Ele lembra que o sistema anterior permitia que as carteiras também fossem confeccionadas em várias entidades, enquanto o atual é mais centralizador, prejudicando o trabalhador. “Conseguir o primeiro emprego já não é fácil e, com isso, fica ainda mais difícil.” O sindicalista teme que isso atrapalhe até a contratação de temporários para o comércio neste fim de ano.

A empresária Cinthia Simão Ferro, proprietária de uma grife de roupas femininas, diz que, por medo da fiscalização, já dispensou três funcionários que apresentaram apenas o protocolo de requerimento da carteira de trabalho, que ainda demoraria quase três meses para ser entregue.

“O governo diz que precisamos gerar empregos e formalizar trabalhadores, mas não justifica demorar tanto tempo assim para emitir esse documento. Ninguém registra um trabalhador apenas com o número de protocolo.” Ela diz que o prejuízo é para os dois lados, pois as empresas também têm dificuldades para encontrar empregados.


Mudança causou demora, explica superintendente do Trabalho


O superintendente do Ministério do Trabalho e Emprego em Goiás, Arquivaldo Bites, explica que o atraso na entrega da carteira de trabalho foi causado pela transposição do sistema usado em parceria com a Caixa Econômica Federal para emissão do PIS dos trabalhadores, que ocorreu em março.

A modernização visou dar mais segurança ao sistema, impedindo fraudes, já que haviam sido detectados casos de trabalhadores com dois números de PIS. Só que, no momento da transposição, houve um problema técnico e o sistema ficou três semanas fora do ar, o que gerou um acúmulo de documentos a serem emitidos.

O órgão chegou a ter 27 mil carteiras para serem entregues em Goiás. Com isso, Arquivaldo reconhece que o prazo, que não passava de duas semanas, chegou a 60 dias. A expectativa era colocar tudo em dia até o final de junho, mas ainda há atrasos.

O superintendente garante que, agora, a espera não ultrapassa um mês, pois o atraso na confecção do documento oscila entre 15 e 20 dias e o estoque caiu para menos de 8 mil carteiras. “Atrasos superiores a isso são causados por problemas bem pontuais, como CPF irregular ou até um erro de digitação”, explica.

Neste caso, às vezes, o órgão não consegue entrar em contato com o trabalhador. “Por isso, pedimos que as pessoas entrem em contato para verificar se existem pendências”, alertou. A expectativa é que tudo seja regularizado nos próximos 60 dias.

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