Quase 60% das dívidas das famílias de Goiânia são com cartão, segundo a fecomércio
Lúcia Monteiro
As famílias goianienses estão usando mais o cartão de crédito para se endividarem, mesmo sabendo que as administradoras cobram as maiores taxas de juros do mercado quando a fatura é parcelada. Assim, o cartão de crédito é o maior vilão do endividamento das famílias.
O levantamento da Federação do Comércio de Goíás (Fecomércio-GO) com 500 famílias de Goiânia também aponta que 41% delas estão endividadas e que quase 60% desses débitos são com cartão. As conclusões estão nas pesquisas de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) e Intenção de Consumo das Famílias (ICF), divulgadas ontem pela Fecomércio-GO.
Levantamentos do Banco Central confirmam que as dívidas com cartões de crédito aumentaram 10,3% de janeiro a maio deste ano, quando o montante movimentado atingiu R$ 28,3 bilhões no País. Como as redes varejistas têm parcelado o pagamento de móveis e eletrodomésticos em até 12 vezes nos cartões, o nível de comprometimento da renda das famílias é cada vez maior e a inadimplência já aproxima dos 10%.
Volta ao consumo – A boa notícia da pesquisa da Fecomércio é que as famílias de Goiânia ficaram menos endividadas em julho e, por isso, pretendem voltar a consumir mais nos próximos meses. Ela mostra que o porcentual das famílias goianienses endividadas é de de 41% neste mês, contra 47% em junho,59% em maio e 77% em janeiro, depois das compras de fim de ano. A estimativa é que hoje existem 161.253 famílias endividadas, quase metade das 305.167 que tinham dívidas em janeiro. Depois do cartão de crédito, com 59,1%% das 500 entrevistadas, o segundo maior instrumento de endividamento é o carnê, presente em 32,2% das contas das famílias de Goiânia.
Bola de neve – A pesquisa da Fecomércio revelou que a renda de 45% dessas famílias endividadas está comprometida por mais de um ano e o nível de comprometimento pode chegar a 50% da renda. De acordo com o estudo da Fecomércio-GO, hoje 21% das famílias da capital têm dívidas ou contas em atraso, percentual que chegou a 25% no início do ano. Em 63,8% dos casos, o tempo de atraso supera os 90 dias. Mas apenas 10% reconhecem que terão dificuldades para pagar.
Renda – O presidente da Fecomércio-GO, José Evaristo dos Santos, lembra que é comum um maior grau de endividamento no primeiro semestre por causa das compras de Natal e das despesas extras de início de ano, como matrículas e materiais escolares. Ele lembra que a situação é mais difícil para as famílias com renda de até 10 salários mínimos, já que o endividamento cai para 31% entre as famílias com renda acima dessa faixa. Entre as famílias de menor renda, 22% têm contas em atraso, percentual que cai para apenas 7% entre as que ganham mais de 10 salários mínimos.
Redução – A redução do endividamento significa mais espaço para ampliação do consumo das famílias. Segundo a pesquisa ICF, a perspectiva de consumo das famílias de Goiânia cresceu 12,5% em julho. O nível de consumo atual, que havia caído no último mês de maio, voltou a crescer 5,1%, com as famílias mais confiantes em relação ao emprego e às pespectivas profissionais.
"Isso gera boas perspectivas para o segundo semestre", destaca Evaristo. Para que o nível de endividamento das famílias se mantenha sob controle, ele recomenda aos lojistas que façam uma análise mais completa do nível de comprometimento da renda antes de liberar o crédito. A pesquisa revelou que, para 61,1% das famílias, hoje está mais fácil conseguir crédito que no ano passado.