Classes D e E são 77,5% dos desocupados há mais de dois anos em Goiás

As classes D e E concentram 77,5% das pessoas que estavam desocupadas há mais de dois anos em Goiás no ano passado. Isso é o que revela levantamento feito pela Tendências Consultoria Integrada. No Estado, esse porcentual representa a realidade de 67,4 mil. O que inclui Natália Maria Targino, de 26 anos, que assinou carteira de trabalho pela última vez em 2020.

Com R$ 700 que recebe por meio de programas sociais, ela cuida de dois filhos, um de 5 e outro de 2 anos. Somente o aluguel desconta R$ 550 dos ganhos. Assim, conta com ajuda de familiares enquanto não consegue uma recolocação. Situação complicada que enfrenta desde que a pandemia de Covid-19 mudou o cenário dentro e fora de casa.

“As escolas fecharam, ficou inviável trabalhar e houve demissões na minha área que é de administrativo. Uma coisa atraiu a outra”, lamenta. Enquanto as crianças não podiam voltar para a escola, com o ensino online, ela explica que nem sempre conseguia ajuda. “O ano passado foi o período mais difícil de conciliar com um novo trabalho.” Por alguns dias, ela conseguiu apenas trabalhar por contrato, sem a tão buscada formalização na carteira.

Nesta semana, ela foi a uma feira de empregos e saiu com duas cartas. Encaminhada para entrevistas, relatou maior esperança de sair dessa estatística para deixar no passado as consequências do tempo em busca de uma oportunidade.

Uma situação que se torna cada vez mais comum há seis anos. “A gente viu um aumento da participação dos desocupados há dois anos ou mais na média nacional. No Estado de Goiás, em 2015, a participação era de 13,4% e, em 2021, passou para 16,2%”, pontua o economista da Tendências Consultoria Integrada e responsável pelo levantamento, Lucas Assis.

A explicação desse crescimento, segundo ele, está no impacto negativo causado tanto pelo biênio 2015/2016 com recessão econômica, quanto pela pandemia. “O mercado de trabalho teve condições deterioradas e não conseguiu retomar os patamares pré-crise.” Além disso, pontua que o cenário é pior para as pessoas com uma menor escolaridade, para setores menos produtivos e que dependiam da interação social.

“Afetou mais quem está em vulnerabilidade econômica. Agora a reinserção ocorre por postos ainda informais, como trabalhador por conta própria ou subocupados, o que revela a deterioração.” O economista lembra ainda que quanto mais tempo o trabalhador fica fora do mercado de trabalho, maior é a dificuldade de reinserção também porque há tarefas que passam a ficar mais difíceis e o trabalhador deixa de ser produtivo como antes.

“Há uma perda de capital humano. Esse contingente sem trabalho há dois anos ou mais limita o crescimento da economia no médio e longo prazo”, explica Lucas. O efeito imediato é a ausência de renda, sem a remuneração direta. “Há efeito cicatriz pelo tempo longo desempregado e um dos grupos de maior vulnerabilidade são os jovens.” No início de carreira, quando os primeiros anos são tidos como essenciais, estar fora do mercado deixa ainda mais feridas. “É o período em que se aprende habilidades, a como se comportar no mercado”, completa Lucas.

Uma saída é apontada com agenda para enfrentar o desemprego e com foco exatamente nos grupos de maior vulnerabilidade. “O ingresso no mercado de trabalho é a forma de reduzir a pobreza.” Enquanto o cenário ainda não alcança o ideal de vagas com boa remuneração, seguras e de qualidade, o economista ressalta que transferências de renda com repasses feitos pelo governo durante a crise na pandemia manteve o padrão de consumo na base da pirâmide para ter uma renda mínima.

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