Os shopping centers ficaram quase 120 dias fechados por força dos decretos governamentais que tentavam conter a proliferação do coronavírus. Mesmo depois de voltarem a funcionar em quase todo o País, após a flexibilização das medidas de isolamento, eles ainda têm vendas entre 60% e 65% do volume habitual para o período. Mas a estimativa é que cerca de 10% das lojas ainda não tenham conseguido voltar ao mercado por vários fatores e que um porcentual semelhante de trabalhadores foram demitidos. A expectativa é de uma retomada gradual, para chegar ao fim do ano com vendas entre 85% e 90% do normal.
A Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) estima que cerca de 8% das 108 mil lojas em todo País tenham fechado as portas e que milhares de pessoas tenham sido demitidas, além da perda de bilhões em faturamento durante o fechamento. Para o representante da Abrasce em Goiás, Fernando Maia, os shoppings foram vítimas de um certo preconceito, pois outros segmentos com uma possibilidade bem menor de controle e segurança reabriram mais cedo. “Aberturas e fechamentos, por conta de decretos e liminares, também prejudicaram”, lembra. Segundo ele, a reabertura total foi possível graças a um rígido protocolo de segurança, que conseguiu vencer a resistência das autoridades.
Mas, depois de um longo tempo sem faturamento, as lojas que conseguiram voltar não reabriram numa condição financeira ideal e terão um longo caminho para a retomada. O horário reduzido de funcionamento (das 12 às 20 horas) é considerado um fator limitante de vendas físicas, que hoje se fundem com o e-commerce. “Um exemplo é comprar on-line e poder retirar na loja”, destaca Fernando. Ele acredita que os shoppings estão, passo a passo, resgatando a confiança do consumidor, que agora vai aos estabelecimentos com mais objetividade, para comprar só o que precisa. Para ele, a velocidade da retomada ainda dependerá do controle da doença e até do nível de emprego e renda da população.
O gerente de Marketing do Buriti Shopping, Guilherme Hara, lembra que as 230 lojas ficaram sem nenhum faturamento entre março e junho. Durante o período, o shopping repassou apenas os custos de condomínio para os lojistas, sem cobrança de aluguel e fundo de promoção. Atualmente, as vendas ainda são afetadas pelo decreto de escalonamento da Prefeitura de Aparecida, que determina o fechamento aos domingos e segundas-feiras.
Ao mesmo tempo, a adoção dos protocolos de segurança exigiu novos investimentos na manutenção, que foram além do exigido. “Para uma retomada mais consistente, ainda precisamos de mais confiança do consumidor nos protocolos sanitários e na economia do País, com uma recuperação de empregos”, alerta. Investimentos foram adiados porque a prioridade agora é garantir os protocolos de segurança.
Reynaldo Abreu Filho, superintendente de operações do Flamboyant Shopping, lembra que o centro de compras adotou algumas ações para reduzir os impactos da pandemia sobre as vendas de seus lojistas, como o sistema de retirada de mercadorias drive thru e o delivery das vendas do Dia das Mães. O shopping também aderiu aos programas de manutenção de empregos do governo federal e conseguiu manter seus 600 colaboradores. “O programa de redução de custos condominiais e do fundo de promoção e a isenção dos aluguéis durante os dias de fechamento colaboraram para que mantivéssemos a vacância sob controle”, afirma.
O superintendente lembra que, antes da pandemia, o público valorizava bastante quesitos como lazer, eventos ou opções de contemplação ao visitar o shopping. Hoje, quando não utilizam os canais delivery e drive thru, as visitas são planejadas e têm objetivos pontuais: adquirir um produto, contratar um serviço ou fazer uma refeição.
O Passeio das Águas também conseguiu reduzir os impactos com sistemas como drive thru e delivery. O superintendente do shopping, Fábio Segura, informa que o Passeio das Águas implementou uma série de medidas de apoio aos lojistas e não registrou, até o momento, um impacto relevante em rescisões contratuais. “Sabemos que a recuperação será gradual, mas já observamos a retomada dos empregos, em função do retorno de nossos lojistas às atividades ou das novas locações que estão em negociação”, destaca. O desafio atual é encontrar formas diferentes para atravessar este momento, por meio de experiências aos clientes. Na semana passada, o shopping recebeu a primeira edição do Executiva Drive-In.
O empresário João Grego, proprietário de cinco lojas em quatro shoppings de Goiânia e Aparecida, deu férias coletivas e suspendeu contratos dos funcionários durante os decretos de isolamento. As vendas on-line garantiram entre 10% e 15% do faturamento normal. “Procuramos proteger o caixa da empresa para sobreviver”, ressalta. Dos 34 colaboradores, oito foram demitidos e outros seis ainda estão com contratos suspensos, já que o horário de funcionamento está reduzido e ainda existe a necessidade de distanciamento dentro da loja. “Outro fator limitante é a proibição de crianças no shopping, o que reduz o movimento das famílias.”