Lúcia Monteiro
Bombardeado com o lançamento de novas tecnologias em artigos eletroeletrônicos todos os dias, que ainda podem ser comprados em suaves parcelas, o consumidor dificilmente resiste à tentação de trocar o aparelho de TV ou o telefone celular. Esse consumismo tecnológico ajudou o comércio goiano a fechar 2010 com crescimento de 13% nas vendas em relação a 2009, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o instituto, o crescimento da renda e do emprego, com o bom desempenho da economia, também ajudaram .
Foi o melhor resultado desde 2005, quando as vendas cresceram 16,56%. Só os negócios das lojas de móveis e eletrodomésticos cresceram 20,1% no ano passado em Goiás, também ajudados pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), facilidade de crédito e até valorização cambial. Outro setor que registrou bom desempenho foi o de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, perfumaria e cosméticos, que também vendeu 20,2% mais em 2010.
Imposto menor – Só na rede Novo Mundo, as vendas cresceram 23%. O gerente de vendas da empresa, José Roberto Souza, lembra que o setor iniciou 2010 com prorrogação da redução do IPI para a linha branca (fogão, geladeira e máquina de lavar) e com o benefício estendido para a linha de móveis. Segundo ele, as vendas também foram impulsionadas pela realização da Copa do Mundo, que incrementou a venda de TVs.
Outro fator que ajudou o setor de móveis e eletrodomésticos foram os muitos lançamentos da linha de áudio e vídeo, principalmente com a chegada das TVs de LED e 3D, além dos vários lançamentos de tecnologias em aparelhos celulares, como o iPhone 4, que despertou o desejo dos apaixonados pela mobilidade.
"Hoje, há uma constante renovação dos sonhos de consumo. A pessoa conquista um produto e logo já deseja outro mais moderno", afirma José Roberto. Depois disso, os aparelhos de LCD passaram a ser alvo de muitas promoções do varejo, que também incrementaram as vendas.
A bacharel em Direito Maria Lúcia da Silva aproveitou uma dessas promoções para comprar uma TV de LCD de 37 polegadas no ano passado com pagamento parcelado. Ela conta que, além de querer muito ter o sinal digital, a compra também foi motivada pelo desejo de ter um aparelho mais moderno.
"Não conseguimos resistir às tentações do consumo, até pela influência da mídia", reconhece Maria Lúcia. José Roberto lembra que o crescimento da construção civil, resultado da redução do IPI e da maior oferta de crédito imobiliário, também ajudou o setor de móveis e eletrodomésticos no ano passado."Quem compra uma casa nova, sempre quer móveis e eletrodomésticos novos."
Estabilidade – O economista da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE, Reinaldo Silva Pereira, lembra que o setor de móveis e eletrodomésticos foi beneficiado por um período de estabilidade de preços em 2010 por causa da valorização do câmbio. Ele explica que as importações dos componentes eletrônicos ficaram mais baratas com o dólar baixo, o que ajudou a não elevar ou até a reduzir os preços de vários produtos acabados.
Reinaldo ressalta que essa é uma indústria em constante mutação, que está sempre apresentando novas tecnologias para despertar o interesse de um consumidor que elevou sua renda e conta hoje com facilidades de crédito para comprar, como o parcelamento sem juros no cartão.
O crescimento das vendas de artigos farmacêuticos também é reflexo do incremento da renda. As indústrias farmacêuticas lideraram o incremento da produção em Goiás ao longo do ano passado. "Com a economia aquecida, as pessoas tiveram mais dinheiro no bolso, passaram a se preocupar mais com a saúde e puderam manter o consumo de remédios de uso continuado", explica o economista do IBGE.
Para ele, o bom desempenho do comércio varejista em 2010 é resultado de um conjunto de fatores que incluiu até a realização das eleições, que sempre injetam dinheiro na economia.
O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos), Henrique Xavier, não concorda que as vendas desse segmento tenham crescido 9% em 2010, como divulgou o IBGE.
Segundo ele, o crescimento foi de 5,3%, porque as vendas foram afetadas pelos aumentos nos preços de produtos importantes da cesta básica, como feijão, carne e açúcar, que apertaram o orçamento das famílias de baixa renda.
No País, a maior alta desde 2001 – O câmbio, responsável pela contenção da produção da indústria nos últimos meses do ano passado, ajudou o comércio varejista a registrar um volume recorde de vendas em 2010.
O setor cresceu 10,9% no período, a maior marca desde 2001, início da série da pesquisa de comércio do IBGE. Em 2009, a expansão havia sido de 5,9%.
A queda do dólar barateou importados e produtos nacionais que usam insumos produzidos no exterior. Desse modo, impulsionou as vendas de eletrodomésticos e móveis (alta de 18,3%), artigos de informática (24,1%) e outros artigos de uso pessoal e doméstico (8,8%), destaques em 2010.
Já a maior competição com importados e o recuo das exportações de alguns setores fez a indústria perder ritmo. O setor cresceu 10,5% em 2010, mas desacelerou com força no segundo semestre por conta do câmbio. "Parte da demanda está sendo atendida por importados, que passaram a custar menos”, disse Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC).
Segundo Reinaldo Pereira, economista do IBGE, a ampliação do crédito, da renda e do emprego também alavancaram o varejo. O ramo de supermercados, o de maior peso na pesquisa, cresceu 9% em 2010, na esteira do aumento da massa salarial.
Já o crédito e as desoneração de impostos beneficiaram o comércio de veículos (alta de 14,1%) e de material de construção (15,6%). Em dezembro, as vendas ficaram estáveis na comparação com novembro.