A conta de luz no Brasil subiu mais do que o dobro da inflação desde 2015, segundo dados da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia) divulgados pelo jornal O Estado de S. Paulo, aos quais o UOL também teve acesso. Os números apontam que a tarifa residencial acumula alta de 114%, uma diferença de 137% em relação à inflação no mesmo período (48%).
No período analisado —de 2015 a 2021 —, o custo da energia elétrica residencial subiu, em média, 16,3% por ano. Já o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), a inflação oficial do país, variou 6,7% ao ano.
Em 2021, a energia subiu 21,21% e foi um dos principais fatores responsáveis pela alta do IPCA, que fechou o ano em 10,06% — bem acima da meta estipulada pelo Banco Central, de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo (ou seja, podendo variar entre 2,25% e 5,25%).
O levantamento da Abraceel ainda mostra que, além das correções feitas anualmente nas tarifas, os últimos anos foram marcados pela criação de novos encargos e custos diretamente repassados ao consumidor. O crescimento de encargos e subsídios, a necessidade do uso de termoelétricas e o modelo de contratação de energia são citados entre os motivos do aumento.
Vice-presidente de energia da Abraceel e responsável pelo levantamento, Alexandre Lopes explicou que o custo tende a aumentar para os consumidores residenciais em momentos em que chove pouco, como aconteceu em 2021. Já para aqueles que atuam no mercado livre — onde a energia é negociada diretamente com as geradoras — o impacto é menor.
Para o futuro, porém, a expectativa é de que a energia elétrica fique ainda mais cara para o consumidor residencial.
"Ainda temos custos de 2021 que não foram repassados para as tarifas e provavelmente teremos outro aumento acima da inflação em 2022. Quando esse novo empréstimo ao setor elétrico começar a ser pago, impactará ainda mais as tarifas, o que significa que ainda vamos pagar por esse custo nos próximos anos", disse Lopes.
O levantamento considera os dados desde 2015, no governo Dilma Rousseff (PT), após o Tesouro interromper repasses para a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), fundo setorial que tem como objetivo custear diversas políticas públicas do setor elétrico brasileiro.
Ao Estadão, o ex-diretor da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) Edvaldo Santana disse que essa interrupção levou a um "tarifaço" de 25% em fevereiro de 2015, e que não parou mais. "Não terá refresco, pelo menos nos próximos três anos. No Orçamento de 2022, há um aumento de quase 25% na conta que banca os subsídios. E vai crescer muito mais até 2025", afirmou.