Manter o orçamento no azul não tem sido tarefa fácil para as famílias brasileiras, que cada vez mais aderem à pesquisa de preços e à busca por promoções para manter as contas em dia. Na opinião de Fábio Bentes, economista da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), os brasileiros estão ajustando o orçamento a uma realidade diferente. O especialista aponta que, apesar dos preços de produtos estarem cedendo em alguns setores, as famílias enfrentam dificuldades com a renda. “O problema não é mais o custo, mas o fato de muitas pessoas estarem sem emprego. Vamos demorar para recuperar a capacidade de consumo”, diz.
Neste estica e puxa do orçamento, a atenção se volta para as variações de preços nos supermercados e para os centavos economizados ao abastecer o carro nos postos de combustíveis. A advogada Carolina Hissa, 34 anos, compromete a maior parte da renda com o pagamento de contas como luz, planos de saúde, mensalidades escolares e faz ginástica para cobrir os outros gastos. “No fim do mês, não sobra nada. Temos que rebolar para conseguir pagar tudo”, desabafa.
Para fazer o dinheiro render, ela prioriza abastecer em postos com preços mais em conta e pesquisar supermercados com produtos mais baratos ou feiras. “Por semana, gastava R$ 180 para encher o tanque, agora, geralmente, desembolso, no máximo, R$ 160”, comemora. Apesar da comodidade de um supermercado perto de casa, os preços altos acabam obrigando Carolina a ir até feiras para comprar verduras e legumes. “Compensa. É possível negociar com o vendedor e a qualidade também é melhor”, afirma.
O educador físico Marcelo Ferreira Cardoso, 35, aproveita a variação nos preços dos produtos no supermercado para aliviar o orçamento mensal da família. “Vejo que há muita diferença de um mesmo produto entre um mercado e outro. Além disso, fico de olho para aproveitar quando tem promoção”, conta. “De grão em grão, a galinha enche o papo”, brinca. Apesar de precisar de mais tempo e paciência para comparar os preços em diferentes estabelecimentos, ele acha que a economia, compensa. “No fim do mês, até consigo poupar algum e comprar coisas que antes eu havia cortado”, comemora.
Pesquisar também é a estratégia que a servidora pública Maria do Carmo Saldanha, 56, usa para esticar o salário até o fim do mês. “A gasolina perto da minha casa, no Guará, subiu para R$ 3,70. Então, abasteci no SIA por R$ 3,06. Já cortei muitas outras coisas, tem que ser assim para viver, pois o salário não aumenta.” Além de acompanhar os preços nos postos de gasolina, ela também gasta sola de sapato quando o assunto é abastecer a despensa. “Só compro o que falta em casa e sempre aproveito promoções para levar um pouquinho a mais”, afirma. Para complementar a renda, ela vende brigadeiros por encomendas e para os colegas de trabalho.
Para Roberto Piscitelli, professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB), controlar o orçamento de perto é regra válida para todas as circunstâncias. De acordo com o especialista, o alto grau de endividamento das famílias, o desemprego e a queda real da renda obrigam os brasileiros a contar os centavos.