Entre janeiro e junho deste ano, 67,9 mil lojas pelo País fecharam as portas: cerca de 375 por dia. O ritmo supera em 143% o do primeiro semestre do ano passado, quando 27,8 mil unidades encerraram as atividades. Os números da Confederação Nacional do Comércio (CNC) divulgados nesta terça-feira, 2, mostram o estrago que a crise econômica provocou no varejo de 2015 para cá e indicam que o horizonte, por enquanto, não é positivo. A expectativa para o ano é de queda nas vendas e mais demissões.
Ainda que os índices de confiança do comércio tenham melhorado em maio, a previsão é de que as vendas do varejo caiam 10,6% em 2016, um resultado pior do que o do ano passado, quando o recuo foi de 8,6%. Por enquanto, a expectativa é de que o Dia dos Pais e o Natal também sejam mais fracos, como já aconteceu com outras datas importantes ao longo do ano. Segundo a confederação, o comércio deve perder 267,2 mil postos de trabalho em 2016, depois de já ter fechado 278,5 mil vagas no ano anterior.
Na avaliação da CNC, para a retomada plena da confiança dos varejistas, o volume de vendas precisa se recuperar. O fechamento de lojas é maior no segmento de hipermercados e supermercados por causa da inflação de alimentos que afeta a venda. “O varejo não conseguirá reagir de forma pujante se o setor de supermercados não reagir junto”, disse Fábio Bentes, economista da CNC. Segundo ele, ainda não está clara se haverá uma reversão do quadro de alta dos preços nos próximos meses. Na sua avaliação, esse reversão será fundamental para acelerar a melhora do varejo no segundo semestre deste ano. “Estamos dependendo de São Pedro.”
Álvaro Furtado, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Gêneros Alimentícios do Estado de São Paulo (Sincovaga) confirma o fechamento de lojas, especialmente dos pequenos supermercados, que perderam vendas. Nas suas contas, só no Estado de São Paulo cerca de 6 mil lojas encerraram as atividades entre o fim do ano passado e junho deste ano. “São empresas associadas do sindicato que não existem mais. A correspondência volta”, contou o presidente do Sincovaga.
Com a recessão, os consumidores, segundo Furtado, “trocaram de marca e também abandonaram a fidelidade a uma loja em busca de preços melhores” na compra de alimentos. “Os varejistas estão perdendo clientes para os atacarejos (mistura de atacado com varejo)”, disse.
Sudeste. Na região Sudeste, foram fechados 35,327 mil estabelecimentos. A pesquisa da CNC leva em consideração apenas lojas de varejo que têm trabalhadores com vínculo empregatício. Elas somam cerca de 700 mil lojas em todo o País e respondem por aproximadamente 4% do Produto Interno Bruto (PIB).
O tranco no consumo que levou ao fechamento de lojas é explicado pelo economista da Associação Comercial de São Paulo, Emílio Alfieri, pela retração real de 4,9% na massa de rendimentos dos trabalhadores no segundo trimestre deste ano em relação a igual período de 2015, pelo desemprego em alta, que fechou o trimestre em 11,3% da População Economicamente Ativa e pela persistente inflação de alimentos. Esses fatores, segundo o economista, afetaram negativamente as vendas à vista e, consequentemente os supermercados, que têm nessa modalidade de pagamento grande parte da receita.
Dados apurados pela associação comercial mostram que as consultas para vendas à vista caíram 15% entre janeiro e julho deste ano em relação a igual período de 2015. Foi um recuo muito mais acentuado do que o registrado no crediário, de 6,8% no mesmo período.
“Em outras crises, a venda à vista salvava o varejo. Hoje não sobra dinheiro para comprar à vista”, observou Alfieri. Essa dificuldade, segundo o economista, está levando as lojas a fecharem as portas.
A Associação Paulista de Supermercados refutou, por meio de nota, os dados da CNC e informou que nos últimos meses observou a abertura de novas pequenas lojas. A Associação Brasileira de Supermercados não comentou os dados.