Goiânia viveu um novo pico epidêmico de dengue entre os meses de maio e junho deste ano, quando o número de casos de dengue superou o limite máximo estipulado pela Secretaria Municipal de Saúde em seus boletins.
O número de casos entre as semanas epidemiológicas 19 e 23 (entre o início de maio e meados de junho) em 2014 foram maiores que as mesmas semanas em 2013 – ano com número recorde de notificações. As semanas 24 e 26 – que envolvem a segunda metade de junho e o início de julho – ainda não têm números consolidados e devem aumentar nos próximos boletins da SMS.
No mês de maio, início da temporada de seca, as notificações da doença aumentaram em cerca 50% m relação ao ano anterior: passaram de 2.568 em 2013 para 3.307 este ano. Foram mais de 700 casos por semana. Em junho, os casos caíram, mas ficaram acima dos registrados no ano passado: subiram de 1.364 para 1.372.
As mortes em decorrência da dengue também superam as de 2013, quando ocorreu a pior epidemia da doença em Goiânia. Das 58.024 notificações de 2013, 23 chegaram a óbito. Este ano, dez pessoas já morreram em um total de 18.798 notificações. Os dados da SMS também apontam para a ocorrência de casos mais graves da doença. Em maio do ano passado, apenas 4% dos doentes chegavam a ser internados. Este ano, esse percentual subiu para 11%.
Ao todo foram três picos epidêmicos de dengue neste ano, sendo dois curtos, em fevereiro e em março, e outro mais longo, a partir de maio. A coordenadora de Doenças e Agravos Transmissíveis, Laura Branquinho, acredita que a tendência agora é de queda e que o número de casos deve voltar a ficar abaixo do limite já em julho, mesmo quando os números estiverem mais consolidados. “Era de se esperar uma redução (a partir de maio), que não ocorreu. Os casos só começaram a cair na 24ª semana.” diz. A confirmação da notificação pode se dá em até 60 dias.
Não há um único fator que explique esse fenômeno, diz Laura. O fato de não ter havido em 2014 uma concentração maior de casos no período chuvoso, como ocorreu em 2013, é apontado com um dos fatores. Segundo ela, mais pessoas estavam suscetíveis a doenças este ano. Para Laura, o atraso da chuva também contribuiu para que a ocorrência de dengue se arrastasse até agora. “Uma hipótese que ainda não foi comprovada”, observa a coordenadora municipal.
Outro fator é o índice de infestação de mosquito transmissor da dengue. Em maio, esse índice era de 1,1%. Parece pouco, mas de acordo com o Ministério da Saúde, acima de 1% de infestação já caracteriza uma situação de iminente perigo à saúde pública. Esse índice de infestação reflete a despreocupação da população em relação ao mosquito. Como não houve uma epidemia de dengue este ano, as pessoas deixam de fazer o controle diário do mosquito, explica Laura.
A negligência de agora pode ter reflexo no período de chuva, afirma o professor do departamento de Saúde Coletiva Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade federal de Goiás (UFG) João Bosco Siqueira. “O ovo pode sobreviver por 18 meses e evoluir quando houver a próxima chuva.” Se o combate ao mosquito e a larva arrefeceu, o índice de infestação no período chuvoso pode ser maior que o previsto pelas autoridades de saúde. Todavia, uma nova epidemia só deve ocorrer com a introdução de um novo sorotipo do vírus, provavelmente do tipo 3, prevê Siqueira. Atualmente, circulam em Goiás dois tipos de vírus, o DEN 1 e o DEN 4.
Na avaliação do professor, os casos de dengue nesse período seco não podem ser visto como uma adaptação do mosquito à falta de água. Segundo ele, o inseto tem conseguido sobreviver ao frio, um fato novo na evolução da espécie, mas ainda depende da água para se reproduzir.
“Acredito que os casos de dengue nos meses de maio e junho sejam consequência do clima.” Ele lembra que as epidemias de 2001, 2009 e 2013 começaram em outubro, e não em janeiro e fevereiro, época em que comumente ocorrem os picos da doença. Mais uma vez, por influência do clima.
Em Goiás, número de casos também é elevado
A mesma situação de Goiânia se repete em todo Estado: aumento do numero de casos de dengue no período de seca. “Esperávamos uma redução nas notificações a partir da nona semana epidemiológica e fomos surpreendidos com o aumento dos casos da doença a partir da 19ª semana”, relata Tânia da Silva Vaz, superintendente de Vigilância em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde.
Em relação ao ano passado, o aumento chegou 77% na 22ª semana. Foram 2.195 em 2013 e 3.892 em 2014. Tânia admite também que os casos de dengue em Goiás ainda são subnotificados porque muitos municípios não registram todas as ocorrências.
Ela aponta também outros fatores que podem explicar o aumento da doença em plena estiagem. As férias escolares, período em que as pessoas fecham a casa e dificultam o trabalho de controle do mosquito; a falta de limpeza urbana, recolhimento de lixo e de entulhos, e a Copa do Mundo.
“Foi uma distração para as pessoas deixarem lado o controle diário do mosquito.” Tânia teme que, com a chegada da chuva, haja uma explosão do número de casos de dengue. “O resultado de hoje contribui para a manutenção dos casos no período chuvoso.”
No Cais Nova Era, o servidor da própria unidade de saúde Douglas Ferreira Araújo, de 20 anos, foi diagnosticado com essa dengue extemporânea. Ele começou a passar mal no sábado, com febre, dor no corpo, vômito e fraqueza, mas nem desconfiou que era a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.
Depois de ser reidratado, Douglas voltou para casa, onde vai ficar em repouso. Essa é a mesma situação do cantor Gusttavo Lima, que também está com dengue. A doença foi constatada no sábado aqui em Goiânia. O cantor passa bem, segundo a assessoria de imprensa.