Roberto Wagner: “Nunca pensei em ficar parado”
De tanto amargarem a alta rotatividade no mercado de trabalho e a falta de apego à estabilidade entre os candidatos mais jovens que entram para o mundo corporativo (das chamadas gerações Y e Z), as empresas passaram a valorizar ainda mais “o passe” dos profissionais mais maduros. Não por acaso, tem crescido a demanda por cinquentões nos últimos anos.
Em 2012, por exemplo, mais de 200 mil profissionais acima dos 50 anos foram contratados em Goiás, conforme dados do Ministério do Trabalho (veja quadro). O estoque de empregos formais na faixa entre 50 e 64 anos aumentou 5,17% entre 2011 e 2012, segundo a Relação Anual de Informações Sociais (Rais). De 65 anos ou mais, o incremento foi de 7,5%.
Compromisso, maturidade e dedicação, características mais presentes em faixas etárias mais avançadas, são palavras em alta no mundo corporativo. Na opinião de quem contrata, são estes os grandes diferenciais apresentados pelos candidatos que pleiteiam uma vaga após os 50 anos de idade.
A coordenadora do Banco de Oportunidades do Senac Goiás, Shirley Adriana, diz que existe uma predisposição das empresas, principalmente de dois anos para cá, de priorizarem profissionais mais maduros, em especial, para cargos estratégicos e de maior visibilidade, como gestores, supervisores e gerentes.
“As empresas me relatam que estão cansados de contratar jovens sem comprometimento, que preenchem a vaga hoje e daqui a, no máximo, 90 dias já estão trocando o emprego por qualquer outra opção. Para a empresa, é prejuízo, porque perdem tempo e dinheiro. Por isso, os profissionais mais maduros são constantemente procurados”, comenta Shirley.
Contam pontos o fato de que os profissionais mais maduros que buscam vagas manifestam maior interesse pelas oportunidades, têm mais prazer pela atividade profissional, faltam menos. Afinal, nessa idade, já não têm as mesmas responsabilidades de quando eram mais jovens, estão com os filhos criados e optam por trabalho com mais prazer, sem vergonha de aprender. “A responsabilidade e o comprometimento são muito maiores, o que reflete na melhoria do desempenho no emprego.”
A valorização de uma faixa etária mais avançada é ainda mais forte nas empresas de pequeno e médio porte, afirma a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) em Goiás, Dilze Percilio. Como elas não conseguem competir com os salários e benefícios oferecidos pelas grandes companhias, perdem constantemente sua mão de obra mais jovem. Já quando empregam profissionais mais velhos, essa rotatividade diminui, justamente pela visão diferenciada que possuem do trabalho, explica Dilze, que é coach de carreira.
QUALIFICAÇÃO
Domínio de conhecimento, experiência profissional e compromisso com o trabalho. Essas características da personalidade de Ione Gomes da Mota, de 52 anos, foram determinantes para que ela fosse selecionada recentemente para o cargo de supervisora administrativa na empresa FM Engenharia Ltda. Graduada em Ciências Contábeis e com MBA em Gestão Empresarial, Ione Mota não teve receio de recomeçar a vida profissional depois dos 50 anos.
No ano passado, deixou a estabilidade e segurança de um vencimento razoável proporcionados por 18 anos de trabalho no Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado de Goiás (Sinduscom) e partiu para novos desafios. “Decidi buscar algo novo, ir para o mercado”, acentua Ione Mota. Em janeiro deste ano, começou a verificar a possibilidade de colocação em empresas, indústrias e instituições. Entregou currículo em 20 unidades e 5 mostraram-se interessadas em contratá-la.
“Confesso que em alguns momentos me senti insegura devido ao preconceito relacionado á idade, ao fato de eu ser mulher e de estar em final de carreira. Mesmo assim segui em frente”, acentua. Para sua surpresa, a contratação foi feita por jovens empresários da FM Engenharia, que apostaram na experiência e no comprometimento profissional.
Ione Mota enfatiza que procura se atualizar profissionalmente. Além do MBA em Gestão Empresarial, fez vários cursos na área de recursos humanos. Ela destaca que cerca de 70% dos colegas de trabalho são jovens. No exercício diário, compartilham conhecimentos. “Eles recorrem a mim para tirar dúvidas e me auxiliam no uso das ferramentas de informática”.
A vida também teve sabor de recomeço para Roberto Wagner Valente Chaves. Ele se aposentou no ano passado, aos 54 anos, depois de mais de três décadas de trabalho no Banco do Brasil. Apenas 19 dias depois, assumiu a função de gerente-geral da Federalcred Goiás, cooperativa que presta atendimento bancário aos profissionais da Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal e outros órgãos.
Roberto Chaves conta que foi convidado a atuar na cooperativa um ano antes, o que motivou a aposentadoria. “Confesso que não me preparei para a aposentadoria, nunca pensei em ficar parado. Se não tivesse recebido o convite, procuraria o mercado de trabalho.” Ele relata que pretende trabalhar por mais algum tempo, enquanto tiver disposição. Depois, almeja montar um negócio próprio, ainda em fase de estudo.
Profissional deve se atualizar
Para quem já passou do meio século de vida, um entrave contrasta com as características comportamentais: a recorrente dificuldade no uso de ferramentas tecnológicas. Os profissionais Ione Gomes e Roberto Wagner, que relataram suas histórias profissionais nessa reportagem, assumem suas limitações em informática. Por isso, é um investimento constantemente necessário para se manter competitivo no mundo profissional.
A atualização profissional também é um atitude indispensável, por meio da realização de pós-graduações, cursos, palestras, dentre outros. “É uma forma de mostrar que o interesse em melhorar não acabou com a idade”, afirma a presidente da ABRH Goiás.
É muito importante também que ele não se sinta inferior aos demais candidatos por causa da idade mais avançada. Pelo contrário: é preciso usar essa característica em favor próprio, como diferencial numa entrevista de trabalho. “Mesmo assim, evite colocar a idade no currículo. A empresa pode deduzi-la em função da experiência profissional, mas deixe para confirmá-la durante a entrevista, quando você poderá demonstrar sua autoconfiança.”
Ainda há resistências à contratação
Apesar do aumento da busca por profissionais acima dos 50, existem empresas que ainda resistem à contratação desta faixa etária, principalmente quando se trata de pessoas mais próximas dos 60 anos. Essas empresas alegam que esses candidatos (teoricamente) não têm mais a energia nem a vitalidade de que precisam.
“Aí, cabe a nós, de Recursos Humanos, esclarecer que isso se trata de característica individual, afinal, não é a idade que define se alguém é apto ou inapto para uma profissão. Nosso papel é quebrar paradigmas”, afirma a diretora-executiva da Agregar Gestão de Pessoas, Maria Célia Franklin Ferreira.
No Banco de Oportunidades da ABRH-GO (onde empresas, alunos e ex-alunos com até dois anos de conclusão do curso divulgam e concorrem a vagas de trabalho), as oportunidades para cinquentões são mais comuns em gestão e comércio de maneira geral, atendimento, empresas de telecomunicação e designer de interiores.
Também não há limitação de idade para as vagas técnicas, afirma a diretora da Agregar. Diante da escassez de profissionais desse nível, qualquer faixa etária acaba sendo bem-vinda.