Era das videolocadoras caminha para o fim

“O último dos Moicanos”, “Sobrevivente” e até “Tempos Modernos” são títulos de alguns clássicos do cinema que podem retratar a atual situação do mercado de videolocadoras em Goiás. Com a queda do número de clientes, muitas empresas goianas estão fechando as portas no Estado.

Foram 45 empresas fechadas nos últimos cinco anos, em Goiânia, segundo dados da Junta Comercial do Estado de Goiás (Juceg). A crise é consequência da disseminação de filmes piratas, sobretudo on-line, e da locação de filmes em canais fechados. Para se manter no mercado, empresas buscam inovar ou focar em perfis específicos de clientes.

QUEDA

Com o encolhimento do número de clientes e volume de negócios, a locadora com maior acervo de filmes em Goiás, a Cara Filmes, com 23 mil unidades, quase fechou as portas em setembro do ano passado.

Os atuais proprietários, Mazukielves Morais e seu sócio, Kleber Morais, admitem que o negócio está frio. Mazuk, que foi funcionário da locadora por 12 anos, conta que os primeiros sintomas de desaquecimento surgiram em 2009, com a ampliação do acesso à internet. Mas o agravamento ocorreu ano passado. “As pessoas estão tendo acesso à pirataria de uma forma muito prática”, reclama.

De 2010 para cá, aponta, o volume de locações na Cara Filmes caiu pela metade. Foram 125 mil locações em 2010 ante 62 mil em 2013. Mesmo assim, acredita que a locadora deve comemorar, pelo menos, mais uma década de prestação de serviços. “Focamos no perfil de nossos clientes, mantendo acervo de filmes de produções orientais, europeias, cults”, diz.

PREÇOS ABUSIVOS

Mazuk culpa também os produtores e revendedoras de filmes, cujos preços repassados são considerados abusivos. “Chega para nós entre R$ 89 e R$ 119. Como comprar cinco cópias de um filme e ainda ter lucro para continuar ampliando o negócio”, diz. E arremata: “O governo precisa intervir na pirataria”, diz. Ele conta que proprietários de cerca de oito locadoras que fecharam as portas os procuraram para vender o acervo do ano passado para cá.

Outra dificuldade que donos de locadora enfrentam na relação com as distribuidoras está relacionada à abertura de janelas de comercialização de filmes. Os filmes são exibidos nas salas de cinema e, cerca de três meses depois, chegam às locadoras.

Mas esse prazo já foi maior, de aproximadamente seis meses. Esses períodos não têm sido mais respeitados, alguns filmes chegam às locadoras e às TVs a cabo ao mesmo tempo. Para piorar, muitos ambulantes de filme piratas vendem as unidades clandestinas no mesmo período em que o filme está em cartaz.

INOVAÇÃO

“A tendência do mercado é continuar caindo. Por isso, locadora hoje não sobrevive só alugando filmes”, diz o gerente da Lyons Videolocadora, Matheus de Vilela. Ele conta que, em média, o volume de locação da empresa permaneceu o mesmo nos últimos cinco anos.

Isso ocorreu graças ao investimento em locação de games e adaptação da loja para venda de outros produtos, como refrigerantes, sorvete e bonecos de filmes. “Locamos muitos games, esse é um mercado que cresce muito”, diz.

FIM

Com uma política mais ortodoxa, a análise do proprietário de seis unidades da Gol Videolocadoras, José Chagas, é taxativa. “O mercado está no fim”, diz. Ele conta que pouco mudou em seu negócio, inclusive os preços cobrados são os mesmos que há cinco anos (R$ 1,49 qualquer título). A diferença está no faturamento. Ele amarga queda de 75%.

José Chagas já aproveitou bons momentos no negócio de home vídeo. Comprou a primeira locadora em 1998, para sair de uma crise depressiva após a aposentadoria. Fruto do faturamento das empresas adquiriu apartamento, casa e carro. “Viajei muito também”, afirma. “Hoje espero acabar tudo”, afirma.

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