Alimentos e bebidas formam a lista de produtos que mais contribuíram para a nova alta inflacionária de Goiânia. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 1,41% em novembro, conforme divulgou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). A variação é a mais considerável para o mês desde 2015. E a capital goiana alcançou o maior índice de todas as 16 regiões pesquisadas no País. Enquanto a vizinha Brasília (DF) registrou o menor, 0,35%.
Um reflexo que a empreendedora Gleice Ramos de Souza vê no dia a dia quando vai ao mercado. “Está fora do normal, cada vez que vou é um novo preço do óleo, do arroz e da carne, principalmente”, pontua. Não é apenas uma impressão, a alimentação acumula alta neste ano de 13,50% e o que mais contou para isso foram exatamente os itens citados por ela.
O arroz, apesar de leve aumento em novembro (0,44%), subiu pela quinta vez seguida e a variação no ano é de 72,29%. O óleo de soja está, até a última pesquisa, 81,80% mais caro em 2020. Além disso, no mês passado, os aumentos mais importantes vieram das carnes (9,11%), com destaque para suína (11,91%), alcatra (11,06%) e contrafilé (9,10%) bovinos.
A substituição da proteína até poderia ser considerada, mas Gleice vende marmitas no restaurante e não quer mudar o básico que já conquistou a clientela. “A solução é pesquisar, olhar sempre nos aplicativos dos mercados e aproveitar os dias de promoção”, indica ao citar que ainda não repassou o aumento para os clientes.
Mas na casa de muitos goianienses não teve como fugir, como mostra o IPCA, que considera os preços dos estabelecimentos comerciais varejistas. Além dos alimentos, o transporte teve alta significativa (1,39%) – o que era apontado na prévia da inflação – e a habitação (1,77%) apareceu como o novo grupo a desequilibrar o orçamento.
Energia
Segundo o chefe do IBGE em Goiás, Edson Roberto Vieira, o que mudou da prévia da inflação para cá foi principalmente o movimento de aumento do preço da energia elétrica autorizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e aplicado pela Enel Distribuição Goiás a partir de 22 de outubro. O que ajudou a destacar a capital goiana com maior índice nacionalmente. “Foi algo que não entrou no IPCA-15”, pontua.
Para o cálculo do IPCA-15, os preços foram coletados pelo IBGE no período de 14 de outubro a 12 de novembro e comparados com aqueles vigentes de 12 de setembro a 13 de outubro de 2020. Edson destaca que como a energia outros produtos importantes para as famílias têm influência do dólar, que “pode manter essa pressão”.
Além da alimentação, as altas mais expressivas vieram das passagens aéreas (8,50%), seguro de veículo (8,48%), mobilidade por aplicativo (8,12%), etanol (4,48%) e energia residencial (3,69%). A gasolina subiu 0,87% em novembro. Também apresentaram valores mais elevados os artigos de residência (0,69%), vestuário (0,68%) e despesas pessoais (0,18%). Nesses grupos, os destaques estão por conta de cama, mesa e banho (2,29%), joias e bijuterias (4,60%) e recreação (0,46%).
Do lado da queda de preços, aparece comunicação (-0,10%), saúde e cuidados pessoais (-0,06%) e educação (-0,01%).
O resultado, como pontua, reflete índice significativo para a capital goiana, que ultrapassa em quatro vezes o de Brasília, que é conhecida por ter custo de vida mais alto. Enquanto as carnes e energia levam ao topo o IPCA em Goiânia, por lá a queda nos preços da gasolina (-0,68%) e do aluguel residencial (-0,63%) ajudaram a frear custos.
“Tudo desemboca no dólar. Aumento de custo de produção aliado a demanda e maior exportação.” O chefe do IBGE diz que a pandemia ainda impacta pela alimentação feita em casa e a moeda estrangeira valorizada faz o mercado interno sentir a preferência pela exportação.