Apesar da preocupação em torno do cenário econômico em 2014, que vem reduzindo a marcha nos últimos meses, o consumo em Goiás e no País continua em alta. A estimativa é de que os gastos da população goiana este ano cheguem a R$ 109,9 bilhões. É um volume 8,5% maior do que o do ano passado, o que significa R$ 8,65 milhões a mais circulando no consumo de serviços e no varejo do Estado, que é o 9º no ranking nacional.
Goiânia se mantém este ano na mesma posição entre as cidades com maior potencial de consumo. Aparece na 9ª colocação, com R$ 37,77 bilhões. O estudo IPC Maps 2014, elaborado pela IPC Marketing Editora e divulgado ontem, mostra que o movimento de ascensão econômica das famílias continua ocorrendo, mesmo com a inflação corroendo o poder de compra da população. As classes mais baixas (D/E) estão diminuindo em todo o País, com a migração para a classe C (chamada emergente), e em Goiás, não é diferente.
Em 2013, a faixa D/E no Estado abrangia 14,7% dos domicílios (R$ 4,3 bilhões em consumo) e, neste ano, será 12,7% (R$ 3,6 bilhões). Mas esse movimento também é visto nos outros níveis econômicos. O maior potencial de consumo está nas mãos da classe B, que concentra 33,8% dos domicílios e tem uma média de renda familiar entre R$ 4,3 mil e R$ 11,1 mil. Ela também está crescendo. Juntas, as famílias dessa faixa econômica devem ser responsáveis por 50,8% dos gastos em Goiás este ano – mais de R$ 52,3 bilhões.
A classe C possui a maior parte dos domicílios (48,6%) e um potencial de consumo de quase R$ 26,8 bilhões. No topo da renda, está a classe A com apenas 4,6% das residências, mas R$ 19,57 bilhões em gastos. O potencial de consumo é, efetivamente, o quanto de dinheiro a população tem no bolso e é o que vai girar o mercado varejista e de serviços, explica o diretor do IPC Marketing e responsável pelo estudo, Marcos Pazzini.
Entretanto, mesmo crescente, existe uma preocupação de como o consumo será conduzido a partir de agora, diante de um baixo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) e um custo de vida em alta. “Desde 2007, o consumo das famílias brasileiras vem crescendo acima do PIB e sustentando a economia brasileira. Mas isto tem um limite”, afirma Pazzini.
Em outras palavras, o economista Marcos Arriel, gerente de Estudos Socioeconômicos do Instituto Mauro Borges (IMB), explica que, apesar da evolução real da renda e do emprego nos últimos dez anos, a inflação daqui para a frente se torna uma das maiores ameaças para o desenvolvimento de Goiás e do Brasil. “Mesmo gastando mais, por causa dos altos preços, o consumidor está comprando menos (em quantidade). Isso pode significar uma possível redução na demanda de produtos e serviços e, mais à frente, atingir o potencial das empresas, reduzir produção e até empregos. É um cenário preocupante a longo prazo”, ressalta Arriel.
CENÁRIO NACIONAL – No País, o potencial de consumo das famílias irá registrar R$ 3,26 trilhões em 2014, representando um crescimento de R$ 261 bilhões (cerca de 8% nominais) quando comparado com 2013. Na liderança regional, o Sudeste registra 48,5% do consumo do País perdendo participação para outras regiões – em 2013, sua presença era de 50,5%.
Essa mudança comportamental de consumo se verifica com o crescimento do Nordeste (chegará a 19,5% ante os 18,2% do ano anterior) e do Norte baterá a casa dos 6% (em 2013, foram 5,8%). Outras regiões mostram ligeira queda no consumo: o Sul ficará com 16,8% – ante os 16,9% registrados em 2013 – e o Centro-Oeste 8,5% contra os 8,6% registrados no ano anterior.
Inflação atormenta os consumidores
De todo o dinheiro que deve ser gasto pelas famílias em Goiás neste ano, a maior parte vai para despesas corriqueiras, aponta a pesquisa IPC Maps 2014. Do total, 25,4% serão destinados à manutenção do lar, o que inclui contas como água, energia elétrica, gás, aluguel e os temidos impostos. Outros 13,45% serão abocanhados pelos gastos com alimentação – 9,01% no domicílio e 4,44% fora de casa.
Também estão entre os principais dispêndios materiais de construção e gastos com veículo. A professora Regina Célia Vitor, 47, garante que já aumentou suas despesas neste ano.
Segundo ela, essa constatação fica evidente no supermercado, principalmente nos preços dos alimentos, que é a maior despesa de sua família. “Todos os dias a gente vê a alteração dos preços. Se você faz compras hoje com R$ 50, na semana que vem, os mesmos produtos serão R$ 70”
As explicações dos fornecedores para justificar o aumento do custo dos alimentos (por causa do tempo ou do encarecimento do transporte) já não convence Regina. “Para mim, clima só serve para mudar vestuário e calçado. Para um grande produtor como o Brasil, não pode mais ser um empecilho.”