Um dia depois da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de subir o juro básico (Selic) em 0,75 ponto porcentual, o Ministério da Fazenda divulgou o boletim Economia Brasileira em Perspectiva em que prevê um cenário bem mais otimista que o do mercado para a inflação em 2010.
A previsão da pasta é que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará este ano "próximo de 5%". Enquanto isso, o mercado financeiro trabalha com inflação na casa de 5,6%. No mesmo boletim, a Fazenda previu crescimento de 6,5% para a economia brasileira em 2010.
A projeção de inflação mais baixa deve ser lida dentro do contexto do esforço da Fazenda de evitar um processo muito agressivo de alta da Selic. O documento divulgado ontem praticamente faz poucas menções ao assunto, obedecendo a estratégia do ministro Guido Mantega de evitar polemizar publicamente com o Banco Central. Mesmo assim, a Fazenda não deixa de mandar seu recado de que considera o cenário inflacionário mais tranquilo do que os analistas do mercado.
Alimentos
Nesse sentido, o documento destaca que a alta da inflação nos primeiros meses do ano decorreu das pressões dos alimentos, por conta do excesso de chuvas, e também por reajustes sazonais. E ressalta ainda que o choque dos alimentos já está se dissipando e levando a um recuo do IPCA, que ficou evidenciado em abril, com a inflação de 0,43%, a mais baixa do ano.
"O recuo da inflação de alimentos, já sinalizado nos últimos indicadores de inflação, tende a determinar a redução da inflação ao consumidor nos próximos resultados do IPCA, ainda que no cenário de forte expansão da atividade econômica", salienta. Sobre a taxa de juros, o boletim apenas menciona a tendência de alta, com a lembrança de que no ano passado, quando as taxas atingiram seus níveis mais baixos, a inflação se manteve sob controle.
Após os dados que mostraram forte crescimento no primeiro trimestre do ano, a Fazenda elevou a projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010 para 6,5%. A última projeção oficial do governo era de expansão de 5,5% para o PIB.
Além disso, o ministério estima que a taxa de investimento da economia brasileira será de 19% do PIB em 2010, com o investimento público atingindo 3,3% do PIB.