Com uma inflação persistente, regras mais rígidas para liberação de crédito, altas taxas de juros e salários com menores ganhos reais, o consumidor pisou de vez no freio e está pensando duas vezes antes de colocar a mão no bolso. Para especialistas, o comércio varejista vem sentindo o peso dessa mudança de hábito do consumidor e deve criar estratégias para alimentar a sede de compra, já que a intenção de consumo continua em baixa.
O nível de endividamento do goianiense é o menor dos últimos dez meses. Isso significa que o consumidor não possui pouca ou nenhuma dívida de cartão de crédito, boleto bancário e cheque pré-datado, por exemplo. De quebra, também não está com alta intenção de consumo para os próximos meses. Embora tenha dado uma ligeira reagida (132,9 pontos) se comparado ao mês anterior (132,3), o índice de intenção de consumo é o pior da série histórica para o mês de julho. Esses são os dados da
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) e da Intenção de Consumo das Famílias (ICF) divulgados ontem pela Federação do Comércio do Estado de Goiás (Fecomércio-GO).
EFEITOS
Para o economista Rui Dias, os efeitos imediatos de uma inflação persistente é a perda do poder de compra do consumidor.
“Psicologicamente, os consumidores pisam no freio, já que eles notam que os valores cobrados hoje estão distantes dos praticados anteriormente”, afirma. Ele acredita que essa acomodação deve ter reflexos mais fortes nos próximos meses, atenuando no fim do ano, com o aumento do consumo para as festas tradicionais do período. “Mesmo nessa época, a tendência é de que o consumo seja inferior ao que foi observado nos últimos anos”, ressalta.
Na análise de Rui Dias, o cenário está preocupante e a baixa intenção de consumo deve ser avaliada com atenção. Ele acredita que o comércio deve ampliar a oferta e imprimir preços mais moderados para voltar a atrair o consumo.
“O comércio necessita dessa disposição de consumo das pessoas, senão teremos perdas de postos de trabalho”, alerta. Inclusive, dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados ontem apontam que, n o primeiro semestre deste ano, houve desligamento de 1.162 postos de trabalho de vendedores do comércio varejista.
Para o presidente da Fecomércio-GO, José Evaristo dos Santos, a desaceleração das vendas no comércio pode ser sentida nos resultados de duas datas especiais para o comércio – Dia das Mães e Dia dos Namorados. “A intenção de consumo é a mais baixa da série histórica para o mês de julho.”
Famílias estão colocando as contas em dia, diz Fecomércio
Por outro lado, acrescenta José Evaristo, os números apontam que as famílias goianienses estão colocando as contas em dia. “A expectativa é de que esse consumidor venha a gastar no futuro de forma mais consciente”, ressalta. O número de famílias goianienses que estão com contas atrasadas caiu. Este mês são 76,3 mil famílias goianienses ante 88,8 em junho de 2014.
O que preocupa é que, entre as famílias que possuem dívidas atrasadas, 48% admitem que não terão condições de quitar seus débitos no próximo mês.
Para fechar esse quadro, o tempo de comprometimento com dívidas é alto. Dentre os endividados, 54,8% possuem débitos por mais de um ano. Em seguida, 18,4% afirmam que o tempo de dívida não ultrapassa os três meses.
José Evaristo afirma que, ao comparar os índices goianos com a média nacional, a postura do consumidor goianiense deixa a capital do Estado em uma situação um pouco mais confortável. Conforme diz, Goiânia possui um nível de endividamento bem inferior à média nacional (63%). “Por outro lado, o volume de vendas em Goiás é superior à média nacional. Em maio, a média brasileira foi de 4,8% e em Goiás foi de 5,3%.”