A bancada do PMDB no Senado decidiu, na tarde de ontem, terça-feira (30), apoiar a versão atual da reforma trabalhista (PLC 38/2017), que deve ser votada na próxima semana na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE). A maioria dos senadores do partido — que compõe, sozinho, mais de um terço do Senado — é favorável ao relatório de Ricardo Ferraço (PSDB-ES), que não modifica o texto.
O grupo também decidiu manter o seu atual líder, Renan Calheiros (AL), no posto. A atuação de Renan vinha sendo questionada por colegas devido a suas declarações contra as reformas econômicas do governo federal. Para alguns senadores, Renan não estava representando a bancada com seu discurso contrário às propostas.
O senador Romero Jucá (RR), que é presidente nacional do PMDB, explicou que omodus operandi da bancada para temas polêmicos, a partir de agora, será consultar todos os senadores e levar adiante a opinião que se afirmar como majoritária.
— Combinamos que, sempre que tiver um tema mais polêmico, a bancada irá aferir a posição [de cada senador] e a maioria irá determinar a posição da bancada. Pequenas divergências tem até nas melhores famílias — observou.
Segundo Jucá, como o partido chegou a um consenso sobre os seus “encaminhamentos objetivos”, não houve necessidade de tratar da substituição do líder.
Votações
Renan Calheiros, no entanto, deu a entender que o partido não fechará questão nas votações, ou seja, não obrigará todos os seus membros a votarem da mesma maneira. Em relação à reforma trabalhista, ele disse que não há consenso, e que isso será respeitado.
— Tratamos da necessidade de encaminhar uma decisão da bancada em cada assunto que tivesse conflito. Hoje, a bancada reunida demonstrou que há evidente maioria, mas não é unanimidade. O PMDB vai expressar a correlação existente no partido.
Renan afirmou que o líder deve "interpretar" o pensamento majoritário da bancada, mas não se comprometeu a sempre encaminhar a posição prevalecente. Ele afirmou que votará com a maioria “se estiver contido” nela, e que, quando for voto vencido, poderá designar alguém para representar o grupo.
Segundo o senador Raimundo Lira (PB), isso poderá ser solucionado pela participação dos vice-líderes, que usariam a palavra em nome da bancada nessas ocasiões. O PMDB, atualmente, tem dois vice-líderes: Kátia Abreu (TO) e Valdir Raupp (RO).
“Contrição”
Renan esclareceu que mantém sua posição pessoal contra as reformas, que considera “exageradas”. Segundo o senador Garibaldi Alves Filho (RN), 17 dos 22 senadores do PMDB apoiam as propostas. Para Garibaldi, o líder do PMDB precisa fazer um “ato de contrição” para conter a “insatisfação” interna.
— Ele ouviu [na reunião] algumas intervenções que, acredito, não queria ouvir como líder. Eu fui um dos que disse que, se ele não mudar o discurso, não está me representando e nem representando parte da bancada. Existe um consenso de que ele deva mudar a conduta.
Renan disse que discutir a sua destituição do cargo de líder “não era uma prioridade” da reunião e garantiu que há consenso da maioria dos senadores quanto à sua indicação.
Apoio a Temer
Ao deixar a reunião, Renan e Romero Jucá fizeram declarações divergentes em relação a uma outra decisão supostamente tomada pela bancada no encontro: manifestar apoio às propostas do presidente da República, Michel Temer.
Jucá, que deixou o gabinete da liderança do PMDB primeiro, anunciou que a bancada havia deliberado, por “ampla maioria”, por uma moção de apoio e solidariedade a Temer, como forma de demonstrar a união do partido.
Questionado sobre sua posição nessa deliberação, Renan disse que esse posicionamento não chegou a ser discutido. Ele sustentou que o presidente precisa participar da construção de uma saída para a crise.