SINDICATOS ESTÃO SAUDOSOS DA ERA LULA

 

Mais cedo do que imaginavam, os movimentos sindicais descobriram razões para ter saudades da Era Lula. Depois de oito anos de intimidade com o Planalto, perceberam nas últimas duas semanas que, na cadeira do velho amigo do ABC que lhes garantiu tantos avanços, está sentada uma economista exigente, que diz não ter dinheiro para reajustes e que, de quebra, avisa que vai cuidar primeiro de brasileiros mais desprotegidos.

Foi uma surpresa atrás da outra. Nas negociações com 36 categorias, que representam cerca de 1 milhão de trabalhadores, a presidente Dilma mandou sua equipe negociar diretamente com as categorias – sem as centrais. Por fim, recorreu ao Superior Tribunal de Justiça para proibir operações-padrão de policiais em portos, estradas e aeroportos.

Antes desse gesto nada amistoso, houve reuniões tensas sobre quanto gastar, sobre qual a urgência maior – os professores universitários, os fiscais aduaneiros, os policiais federais. A certa altura, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, avisou que o ponto dos grevistas seria cortado. “Isso faz parte do passado”, retrucou no ato Oton Neves, do Sindicato dos Servidores Públicos Federais.

A resistência da presidente em negociar com as centrais sindicais incomoda dirigentes e parlamentares do PT. Em conversas reservadas, eles afirmam que o governo do PT está, sim, se distanciando de suas bases, o que é preocupante num ano eleitoral como o de 2012.

Apesar de dizerem em público que Dilma está certa em não ceder aos grevistas, esses dirigentes do PT avaliam, a portas fechadas, que o governo perdeu o “timing” da negociação, deixou o movimento fugir do controle e, agora, a fatura cobrada poderá ser bem maior. Na quarta, quando esses comentários já circulavam, a presidente anunciou um vasto plano de concessões de ferrovias e rodovias à iniciativa privada – coisa de R$ 120 bilhões em 30 anos. Com isso, ao estranhamento na negociação sindical se somou a desconfiança quanto ao seu compromisso com o modo petista de governar.

Facebook
Twitter
LinkedIn