Vai pagar em dinheiro, cartão ou celular?

O celular é o novo aliado da indústria de cartões na guerra contra o papel moeda. Oito meses após a regulamentação do segmento de pagamento móvel, soluções que há pouco tempo eram promessas já estão funcionando no mercado. Os brasileiros podem, por exemplo, pegar táxi e comprar um café sem tirar a carteira do bolso, usando o celular como meio de pagamento.

A estimativa da Visa é que essas novas tecnologias possam atrair para os meios eletrônicos cerca de US$ 53 bilhões em transações feitas sem cartão por profissionais liberais no País – e permitir a cobrança de tarifas sobre esse montante.

O mercado financeiro aposta que as soluções de pagamento via celular são adequadas para pequenos empresários e profissionais autônomos, pois seu custo é menor do que o das maquininhas que estão no varejo. Ao todo, existem 23 milhões de pequenas empresas e autônomos no País, segundo dados do Sebrae, e pelo menos 19 milhões deles não aceitam cartão.

Em novembro, a legislação brasileira regulou o uso de cartão pré-pago associado a um número de telefone e definiu que qualquer empresa que queira transacionar dinheiro via pagamento móvel precisa de autorização do Banco Central.

Do lado de quem vende as soluções, empresas como Cielo, Ingenico e Verifone criaram versões “mobile” das maquininhas de cartão. A Cielo vende a sua a R$ 11,90 ao mês – cerca de 90% menos que o aparelho tradicional. “O celular faz o papel da maquininha e abre um mercado novo para a Cielo, que é atender o pequeno vendedor que não aceita cartão”, diz o vice-presidente de produtos e negócios da Cielo, Dilson Ribeiro. Hoje há 133 mil clientes da Cielo que aceitam cartão por meio do celular. E a meta é que o e-commerce e os pagamentos móveis representem 20% do volume transacionado pela companhia até 2020.

PARCERIAS – O pagamento móvel motivou também parcerias entre bancos, operadoras de telefonia e bandeiras de cartão. Oi, Banco do Brasil e Visa, por exemplo, lançaram juntas, em junho, uma solução para pagar compras usando o celular em lojas físicas – por meio de uma tecnologia de aproximação chamada NFC, ainda restrita aos smartphones mais caros (veja quadro). A TIM testa o NFC em duas parcerias – uma com Itaú, MasterCard e Redecard e outra com Bradesco, Visa e Cielo.

Ninguém quis entrar nesse mercado sozinho. “Pesou o fato de ser ainda um mercado muito novo e a complexidade de criar uma solução para transação de dinheiro via celulares”, diz João Paulo Bruder, coordenador de telecomunicações da IDC.
Telefônica e Mastercard se uniram em 2012 para criar a MFS, empresa que administra o Zuum. O serviço, hoje com 250 mil clientes, permite transferências de dinheiro mesmo sem ter conta em banco.

O Bradesco abriu com a Claro a empresa MFO também para atuar nesse negócio. O produto, Meu Dinheiro Claro, foi lançado no início do ano. “É um novo uso para o celular que trará mais receitas para as operadoras”, disse o diretor de serviços de valores adicionados da Claro, Alexandre Olivari.

Apesar da aposta na tecnologia, o uso ainda é irrisório considerando que o Brasil tem 275 milhões de celulares habilitados. O maior desafio é ensinar o uso da tecnologia ao cliente e convencê-lo que pagar e receber pelo celular é tão simples quanto mandar um SMS.

Loja física testa pagamento móvel

O gerente de banco Luiz Gustavo de Almeida paga a conta no Suplicy Café, no bairro Jardins, em São Paulo, sentado a sua mesa, sem passar pelo caixa ou abrir a carteira. Ele é um dos clientes que já utilizam a solução de pagamento móvel oferecida pela rede desde o início do ano, por meio de uma parceria com o Paypal. “É mais prático. Não pego fila para pagar e às vezes venho para o café só com o celular no bolso”, diz.

O Suplicy Café é uma das poucas varejistas que oferecem ao cliente soluções de pagamento móvel no Brasil. A empresa participa de um projeto piloto global do Paypal para viabilizar a tecnologia – a forma de pagamento já representa 5% das transações.

O usuário deve ter uma conta no Paypal – na qual tem cartões cadastrados – e baixar o aplicativo da empresa. Na hora de pagar a conta, faz o check-in na loja (por meio do aplicativo) e aguarda o atendente lhe enviar a mensagem de pagamento (ele usa um tablet). O cliente só deve confirmar o pagamento no celular e o valor será descontado de seus cartões pré-cadastrados.
“Para a loja é mais uma forma de pagamento. Há uma necessidade de treinamento dos atendentes, mas o cliente que usa se torna assíduo”, disse Marco Suplicy, dono da cafeteria, que tem a solução em cinco lojas e pretende ampliar para 11 este ano.

Uma pesquisa do Paypal com 15 mil pessoas em 15 países, que será divulgada hoje, mostra que o brasileiro é o cliente que mais deseja facilidades para pagar com celular – o índice é de 30% dos entrevistados, acima da média global de 20%. De olho nisso, a empresa testa no Brasil uma solução para pagamento móvel no varejo físico. “Deixamos de ser uma empresa focada no varejo online e nos voltamos ao comércio como um todo. Isso aumenta em dez vezes nossas oportunidades de negócios”, disse o diretor do Paypal para a América Latina, Mario Mello. A Paypal pode cobrar tarifas sobre as transações na loja.

A empresa ainda não tem planos de expansão da tecnologia no Brasil e diz que está focada em entender dificuldades e oportunidades na operação. Ainda neste ano, o Paypal vai testar no Suplicy Café tecnologias que permitem, por exemplo, fazer pedidos pelo aplicativo e oferecer promoções. “Não queremos só oferecer um novo meio de pagamento, mas uma nova experiência de compra”, disse Mello.

OUTRAS AÇÕES – Existem outras ações que aliam o celular ao varejo físico no País. No Rio, há um projeto piloto para uso do celular no pagamento da passagem de ônibus. Em São Paulo, a novidade está sendo testada no delivery de supermercados em três estações de metrô. Um adesivo com imagens de produtos imita a gôndola e o cliente escaneia o QR code para fechar a compra pelo celular e receber em sua casa.

Solução para pequenos vendedores –  Cerca de 250 mil microempresas e profissionais liberais aceitam o pagamento em cartão por meio de dispositivos móveis no Brasil, segundo estimativas da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

Um deles é Luís Matoso, consultor da Belcorp, a terceira em vendas diretas de cosméticos na América Latina, atrás de Avon e Natura. Ele pagou 12 parcelas de R$ 29,90 para comprar uma máquina da Payleven que funciona acoplada ao celular – antes, ele tinha uma maquininha tradicional, que lhe custava R$ 110 ao mês. Na hora de receber o pagamento em cartão, Matoso digita o valor da venda no seu smartphone, que se conecta ao dispositivo da Payleven por bluetooth. O cliente insere o cartão no terminal e digita a sua senha – o comprovante é enviado por e-mail.

Existem outras versões à venda. Há, por exemplo, dispositivos mais simples e baratos, que se conectam ao celular pela entrada do fone de ouvido. As versões mais caras leem até código de barras. A alemã SumUp, por exemplo, trouxe, há seis meses, seu leitor de cartões que se conecta ao celular e já tem 30 mil clientes no País – a segunda maior base da companhia, que está em 14 países.

O dispositivo custa R$ 79 e não tem mensalidade. “Nossos clientes fazem em média duas transações por semana. Ou seja, eles nunca teriam uma maquininha tradicional”, diz o diretor da SumUp no Brasil, Igor Marchesini.
A sueca iZettle passou a vender seus leitores no Brasil há dois meses. Em parceria com o Santander, ela comercializa o aparelho associado a uma conta corrente com benefícios.

Atenção à segurança das transações – Para o diretor de aceitação da Visa, Renato Rocha, é preciso ter atenção às questões de segurança para não dar um passo atrás no mercado brasileiro. “Uma solução que não leia chip e aceite senha é inadequada para o Brasil”, disse. “Não podemos retroceder do ponto de vista da segurança das transações.”

A companhia trouxe ao Brasil em 2013 um programa global que dá uma espécie de consultoria aos fabricantes de versões móveis das maquininhas, batizado de Visa Ready, que dá uma certificação Visa às soluções adequadas para cada país. Até abril, a empresa havia aprovado sete dispositivos para o mercado brasileiro – todos com chip e senha. No mundo, há 35 soluções aprovadas pela companhia.
 

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