Vendas de remédios do kit Covid em 2020 crescem mais de 500% em seis empresas

As vendas de cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina, nitazoxanida e doxiciclina mais que quintuplicaram em 2020 para seis das 30 fabricantes de ao menos um desses remédios. Os medicamentos integram o chamado “kit Covid”, que não tem eficácia comprovada. Os dados são da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e foram obtidos pelo Poder360.

O Laboratório Globo teve o maior crescimento no número de embalagens desses medicamentos vendidas: 1.856%. Passou de 135 mil para 2,6 milhões em um ano. A Vitamedic foi a que mais vendeu no ano passado (44,3 milhões).

A EMS, 2ª empresa que mais vendeu em 2020, diz que os dados espelham a pandemia. “A cloroquina era estudada como um possível tratamento. Houve uma forte procura espontânea pela hidroxicloroquina, o que impactou todo o setor farmacêutico no Brasil”.

A empresa declarou em nota enviada ao Poder360 que forneceu o medicamento a dois estudos sobre a eficácia do remédio contra a Covid-19 no Brasil. Segundo a companhia, ambos apontaram a ineficácia da hidroxicloroquina em relação à doença.

“Também, no site da empresa (ems.com.br), foi publicado um comunicado oficial alertando sobre a ineficácia da hidroxicloroquina no combate à covid-19 e confirmando o uso do produto para as indicações em bula, conforme orientação médica”, escreveu.

O Poder360 procurou todas as seis empresas que tiveram os principais crescimentos em vendas desses remédios, mas só a EMS respondeu até a publicação deste texto.

TENDÊNCIA DE MERCADO

A alta procura pelos remédios do “kit” impulsionou empresas que não comercializaram esses medicamentos em 2019 e a venderem durante a pandemia para acompanhar a demanda.

A PharmaScience e a Hipolabor Farmacêutica, por exemplo, não venderam azitromicina em 2019. Em 2020, comercializaram 1 milhão e 43 mil embalagens do remédio, respectivamente. A 1ª empresa afirmou que “trabalha conforme a demanda“. A 2ª diz que o remédio é “menos de 0,1%” de sua produção.

“A Hipolabor informa que possui, desde 2015, registro na Anvisa para produção de Azitromicina Di-Hidratada 500 mg (comprimido). Esporadicamente, dentro do período de validade do registro, a empresa produz pequenas quantidades do medicamento.”

BOLSONARO DEFENDEU TRATAMENTO

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é o maior influenciador da cloroquina no mundo, de acordo com dados do Facebook. Foram 11 milhões de interações e 1,7 milhão de compartilhamentos na rede social.

No ranking global, Bolsonaro ficou à frente do ex-presidente norte-americano Donald Trump, que teve 1,1 milhão de interações sobre a cloroquina, e da OMS (Organização Mundial da Saúde), que teve 491 mil.

Bolsonaro também divulgou outras drogas sem eficácia comprovada contra a covid-19, como a ivermectina (157 mil interações), azitromicina (750 mil) e a nitazoxanida (231 mil). Todas integram o dito “kit Covid”.

Em agosto de 2020, ele declarou que as mais de 100 mil mortes por covid-19 à época teriam sido evitadas caso as pessoas tivessem sido tratadas com cloroquina de forma precoce. Na época, ele afirmou que enviou mais de 400 mil comprimidos do remédio para o Estado, apesar de admitir não haver comprovação científica.

Em fevereiro de 2021, o presidente admitiu a possibilidade da ineficácia dos medicamentos. Disse em live que não se arrependeria de ter indicado a hidroxicloroquina contra a Covid-19.“Tudo bem, paciência”, disse.

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